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Sobre a Moral

Um dos argumentos mais utilizados pelos crentes na defesa da utilidade religiosa é o argumento da necessidade do moralismo religioso como sustento de uma sociedade moral. Segundo este princípio, o moralismo religioso é indispensável ao funcionamento da sociedade, através da divulgação de valores de justiça e de regras de boa conduta.

Contudo, este princípio não tem qualquer fundamento. Os sistemas religiosos são sistemas fechados, relutantes à influência externa e só assimilam novos valores exteriores quando lhes é conveniente, através de um simples processo de sobrevivência ou, como quase sempre acontece, tardiamente, quando já toda a sociedade assimilou as alterações em causa.
Por serem sistemas fechados e, consequentemente, as normas morais demorarem muito tempo a sofrerem adaptações, as religiões permanecem praticamente imutáveis aos olhos de qualquer geração e as alterações só se conseguem vislumbrar, muitas vezes, numa perspectiva histórica.

Assim, como se explicaria, baseando-nos no princípio exposto no primeiro parágrafo, que os valores morais de uma religião sofram dessa imutabilidade enquanto as sociedades, com o seu dinamismo independente da religião, alterem consideravelmente os seus valores em processos que muitas vezes duram escassos anos?

Se o princípio da moral religiosa fosse válido viveríamos ainda sob a moralidade medieval, uma vez que os princípios morais religiosos dessa era ainda vigoram na sua maior parte; nos casos em que isso não acontece, a religião foi sempre a reboque das alterações impostas pela dinâmica da sociedade.

Não existem razões de facto para sustentar a superioridade de qualquer moral religiosa. A moral é fruto desse enorme empreendimento que é – e continuará a ser – a adaptação do ser humano ao mundo que o rodeia, procurando equilíbrios de justiça na busca da felicidade individual e colectiva.

(Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

Perfil de Autor

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Casado e pai de duas filhas, nunca revelou tendências para o sobrenatural. Aos oito anos aprendeu a dizer "Somos surdos, Senhor" no lugar de "Ouvimos, Senhor". Defende que o ateísmo deve ser construído à conta dos seus próprios méritos e não baseado nos desméritos das religiões. Fundador e webmaster do Portal Ateu, prefere abordar as questões de laicidade, moral e cultura. Blog pessoal: Penso, logo, sou ateu. Também no Twitter e no Facebook.