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Do primitivismo à racionalidade

Não discuto Religião e Ateísmo do mesmo modo como se discute futebol animalesco e irracional, e política partidária tratada ao mesmo nível do futebol, em discussão inflamada com a costumeira irascibilidade desrespeitadora da opinião e sensibilidade do outro. São modos que não dignificam ninguém. Situam-se num patamar primitivo, do qual o irascível contundente ainda não saiu e nem tem vontade de sair… até porque desconhece o patamar evolucionário que pisa… por isso se inflama!…

O sentido religioso é natural no Ser Humano, e é com essa naturalidade que eu procuro tratá-lo de acordo com a minha sensibilidade. Poderei não o conseguir por ignorância e pelo “factor-primitivismo” que também me afecta, pois estou colocado no mesmo patamar evolutivo dos meus contemporâneos e dessa realidade natural não posso fugir (mas sei o patamar que piso… o que já é saber alguma coisa e poderá dar-me alguma vantagem racional!…). 

O nosso primitivismo, por mais que nos custe admiti-lo por nos imaginarmos evoluídos só porque sabemos dizer “Ácido Desoxirribonucleico”, pode ser aferido neste simples exercício: se inscrevermos a evolução do planeta Terra no mostrador de um relógio, sendo as zero horas o momento do Big-Bang (ou do que quer que fosse de que resultou o Universo e, nele, o nosso planeta) e as doze horas o tempo presente, temos que a Era actual, o Quaternário, se iniciou nos últimos dois minutos, e o “Homo Sapiens” surgiu quando faltava uma dúzia de segundos para o meio-dia. No decorrer das doze badaladas, consumiram-se as Idades da Pedra, do Ferro e do Bronze, o Homem espalhou-se pelo mundo, nasceram e morreram as civilizações Mespotâmica, Chinesa, Egípcia, Grega e Romana, circum-navegou-se o planeta, o Homem pisou a Lua… e você está a ler este texto.

Quero com isto dizer que a nossa espécie é recente. Na verdade, somos a última experiência da Natureza na evolução da vida… a qual ainda não está terminada. Como produto natural que somos, encontramo-nos na fase do tosco. Cheiramos a pintado de fresco. Estamos a ser burilados pelas experiências vividas, fazemos guerras só porque sim, e ainda acreditamos num deus criador, num diabo malvado e em bruxas que adivinham o futuro. Não podemos escapar às características do animal predador que somos, nem à fase evolutiva em que nos encontramos.

A evolução tecnológica acontece em ritmo muito mais acelerado do que evolui a nossa mente em termos de progresso racionalista. Por muito evoluídos que pensemos ser, só o somos no nosso entendimento de egoístas vaidosos… e as nossas acções e crenças têm a marca desse primitivismo animalesco e egocentrista, espampanantemente coberto pelo pesado manto da nossa vaidade desmedida e ignorância camuflada.

É neste contexto evolutivo que acontecem as guerras, sejam elas de ordem patriótica ou religiosa. Todas elas são o resultado do nosso primitivismo que o passar do tempo e a evolução da espécie promovida pelas transformações ditadas pelo ADN em resultado de mutações, se encarregará de apurar… só nos cabe esperar e, entretanto, dar a nossa ajuda no apuro das mutações…   

Mas, por aí… até eu já me sinto profundamente crente!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV

Perfil de Autor

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Onofre Varela nasceu no Porto em 1944, estudou pintura e exerceu a atividade de desenhador gráfico em litografia e agências de publicidade, antes de abraçar a carreira de jornalista (na área do cartune), em 1970, no jornal O Primeiro de Janeiro. Colaborou com a RTP, desenhando em direto a informação meteorológica no programa Às Dez e animando espaços infantis. Foi caricaturista e ilustrador principal no Jornal de Notícias, onde também escreveu artigos de opinião, crónicas e entrevistas.