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Da ciência e da religião.

Falar de Ciência e de Religião é como falar de chá e de vinho. Não são a mesma coisa… mas ambos contêm água!

O leitor mais avisado, seja religioso, agnóstico ou ateu, que não detenha um pensamento fundamentalista e pretenda ser coerente com as coisas que ao mundo e ao Homem pertencem, saberá que desde a origem da Humanidade surgiram tantas religiões como idiomas; umas cem mil… e todas elas sempre foram afirmadas como únicas e verdadeiras.

E também poderá apontar atitudes de crença como sendo indutoras de calma e de paz que lhe mostram a “divina graça da criação”… a mesma calma e a mesma paz que o cientista encontra no final do estudo que lhe mostra a realidade das coisas naturais, baseado na verdade científica dispensando credos religiosos.

Credos que construiram uma espécie de “estrada do conhecimento” que nos serviu de percurso na construção da História do Pensamento, permitindo-nos o “entendimento” da criação do mundo e da criação do Homem modelado em barro, mais o paraíso e o próprio conceito da vida para além da morte como negação do natural fim que recusamos contrapondo-lhe a ideia que criamos da “vida eterna” baseados na fé.

O raciocínio que nos mostra a mesma água contida no chá e no vinho… é que faz a diferença!…

O sabor final de cada uma das bebidas, mais os efeitos que cada uma produz em nós, são tão diversos, como diversos são o saber e o crer. Mas não é absolutamente necessário abandonar um para seguirmos no caminho da vida carregando, somente, o outro. Na nossa mala de viagem cabem os dois.

O chá não substitui o vinho, tal como o sal não substitui o açúcar… mas há um lugar próprio nas prateleiras da nossa cozinha (e da nossa mente) para ambos… o que não devemos é misturá-los!…

Se há religiosos para quem a narrativa do Génesis não ultrapassa o mito que é (não misturando sabores), esses constituem uma minoria… não integram a massa compacta de crentes que se arrastam em lugares ditos sagrados e que aceitam a Bíblia como História, confundindo os frascos na prateleira.

Afirmar a crença como substituto do conhecimento científico, pode conduzir a caminhos tão escuros como os que levaram Donald Trump à presidência dos EUA… país onde, numa sondagem do jornal “USA Today”, há uma vintena de anos, se garantia que 60% dos norte-americanos reivindicavam o ensino do Génesis bíblico nas escolas, em substituição do Evolucionismo de Charles Darwin!

Quando se junta a crença à crise de intelecto, procura-se apoio nas santinhas de altar e na mesa pé-de-galo da bruxa e da cartomante-adivinhadora das televisões, desacreditando a informação científica. O raciocínio religioso de uma grande parte de nós é muito primitivo… e isso é coisa que me inquieta, tanto mais quando penso nas palavras do físico e prémio Nobel Steven Weinberg: “Com ou sem religião sempre haverá gente boa fazendo coisas boas e gente má fazendo coisas más, mas para que gente boa faça coisas más faz falta a Religião”.

No nosso percurso pela estrada da vida, o desencontro das ideias de Ciência e de Religião já levou a alguns confrontos, mas hoje essas atitudes bélicas não têm razão de ser. As duas disciplinas pertencem a diferentes campeonatos… nunca jogam juntas nem disputam a mesma taça. Devemos arrumar cada uma no seu devido lugar nas prateleiras do nosso Conhecimento.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

Perfil de Autor

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Onofre Varela nasceu no Porto em 1944, estudou pintura e exerceu a atividade de desenhador gráfico em litografia e agências de publicidade, antes de abraçar a carreira de jornalista (na área do cartune), em 1970, no jornal O Primeiro de Janeiro. Colaborou com a RTP, desenhando em direto a informação meteorológica no programa Às Dez e animando espaços infantis. Foi caricaturista e ilustrador principal no Jornal de Notícias, onde também escreveu artigos de opinião, crónicas e entrevistas.