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Os piores de nós

Texto de Onofre Varela

As organizações que constroem as sociedades, são falíveis. Parece não haver organizações impolutas nem exemplares, e algumas delas são, até, mesmo, tenebrosas, como bem nos mostra a História com o exemplo do Nazismo que, nas suas origens, não revelava a maldade pela qual veio a ser conotado, mostrando o pior que pode habitar nas mentes de alguns de nós (e cuja ideologia ainda hoje tem partidários declarados, ou mais ou menos camuflados, inclusivamente com assento em Parlamentos europeus, considerando o Parlamento da nossa República!).

Todas as organizações políticas, sociais e religiosas, são a essência de nós. Fomos nós que as criamos e alimentamos. Qualquer análise crítica às malfeitorias já protagonizadas por aqueles que detinham o poder – seja político, económico, social ou religioso, e que, à época das suas práticas, eram considerados “os melhores de nós” e por isso lhes demos o poder ou, se não lho demos, consentimos que o tomassem – não deve esquecer a origem social do próprio analista que nunca se encontra fora da espécie que tais actos comete.

É o caso da Igreja Católica, tão rotulada de santidade, tão apregoadora do bem e do amor, e tendo na sua História milenar imensos casos nada dignos da moral que enforma os seus pregões!

De todas as acções menos correctas que ensombram a Igreja Católica, parece não haver dúvida de que as mais graves serão as que contam situações de pederastia, tão desprestigiantes da instituição.

Recentemente a imprensa referiu Joseph Ratzinger (o clérigo que protagonizou o papel de Papa Bento XVI e renunciou ao cargo em Fevereiro de 2013), que antes de ser Papa presidiu ao gabinete do Vaticano identificado como “Congregação para a Doutrina da Fé”, com o cargo de vigiar a pureza na prática da Religião Católica pelo mundo.

Nesse sentido é dele a responsabilidade da destruição daquilo que, nas décadas de 1950 e 1960, era a esperança maior dos povos latino-americanos: a “Teologia da Libertação” defendida por sacerdotes progressistas da América Latina, como o brasileiro Leonardo Boff, entre outros, contra os abusos clericais que protegiam capitalistas exploradores do povo mais desgraçado. Ratzinger colocou-se ao lado dos exploradores, contra os explorados, e destituiu, ou ostracizou, os “padres libertadores”. É um “pecado” que a História não esquece ter sido praticado por Ratzinger.

As notícias mais recentes que aqui trago, lembram que Ratzinger iniciou o seu pontificado com a teoria de que “a roupa suja deve lavar-se em casa”, dando a ideia de estar empenhado em denunciar abusos sexuais no seio da Igreja, aos quais o seu antecessor não tinha dado a devida importância.

Nesse sentido, Bento XVI proclamou o são princípio da “tolerância zero” para os crimes sexuais, no intuito de limpar a Igreja do pior da sua história recente. Fracassou em tal intenção, possivelmente por mais do que uma razão, mas também porque o lugar de Papa, no Vaticano, se encontra “rodeado de lobos”, cuja alcateia dificulta as intenções dos melhores pontífices. Quando se retirou da Santa Sé, renunciando ao cargo de Papa, o clérigo alemão deixou algumas mensagens demolidoras contra os bispos que dificultaram, ou impediram, a concretização das suas melhores intenções na melhoria das práticas da sua Igreja.

A imagem de Joseph Ratzinger estava a ser tão bem gerida pelo próprio e pelos seus mais dilectos colaboradores, quando, há cerca de uma dezena de dias, se veio a saber, pela imprensa internacional, que o Papa emérito Bento XVI, afinal, encobriu casos de crimes sexuais contra crianças na arquidiocese de Munique, quando foi arcebispo entre os anos de 1977 e 1981!

A sua ideia de “a roupa suja deve lavar-se em casa”… afinal, podia referir-se à sua própria roupa… não a querendo ver em lavadouro público que nada prestigiava quem a vestiu!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

Imagem de Clker-Free-Vector-Images por Pixabay

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