Padre Eugénio Jalhay (3)
Texto de Onofre Varela, publicado na Gazeta Paços de Ferreira.
O difícil caminho da vida de Eugénio Jalhay começou a desenhar-se em 1910 com o advento da República que muitos políticos portugueses reclamavam. A agitação do fim da Monarquia e a ascenção dos sanhosos republicanos, fez soprar maus ventos para o clero. A legislação do novo regime recuperou uma lei de 28 de Agosto de 1767 (entre outras do tempo do Marquês de Pombal) determinando que os Jesuítas fossem obrigados a sair imediatamente do país e dos seus domínios. Assim se iniciou um itinerário de fugas para o sacerdote-arqueólogo Eugénio Jalhay. O advento da República com forte carga anti-clerical, obrigou muitos religiosos, mormente Jesuítas, a saírem do país.
Eugénio Jalhay iniciou, então, um itinerário de fugas, quando completou 20 anos de idade. Partiu para Tortosa (Espanha) e aí estudou Filosofia. Foi depois para Lovaina (Bélgica) onde completou os estudos e chegou a ser professor num colégio em Jette-Saint-Pierre – fundado por padres jesuítas expulsos da novel República Portuguesa, perto de Bruxelas, fundado por padres jesuítas expulsos da novel República Portuguesa – que recebia estudantes fugidos de Portugal.
Os ventos da História continuavam a soprar mal, não só para os clérigos portugueses, mas para toda a Europa. Nos Balcãs, em 1913, terminara uma guerra que durou um ano e criara um caldo conflituoso de interesses vários englobando dois grupos em constante estado de tensão: a Tríplice Aliança, contemplando Alemanha, Austria-Hungria e Itália, e o bloco composto por França, Grã-Bretanha e Rússia. Os jogos de interesses políticos acabaram por conduzir ao assassinato do arquiduque herdeiro Francisco Fernando da Áustria, em Sarajevo, no dia 28 de Junho de 1914, o que ditou a causa imediata da Primeira Guerra Mundial, com a declaração das hostilidades da Alemanha à Rússia e à França, em Agosto. Logo a seguir a Inglaterra e o Japão declararam guerra à Alemanha. Estavam lançadas as cartas para o jogo que os homens mais adoram: a guerra!… E os alemães invadiram a Bélgica e o norte da França.
Eugénio Jalhay parecia ter sido talhado para estar nos locais errados na hora certa, e o seu sotaque de estrangeiro despertou curiosidade e desconfiança aos alemães invasores. Foi confundido com um espião, prenderam-no e quiseram fuzilá-lo. Com a preciosa e vital ajuda de alguém que o sabia inocente daquela acusação, conseguiu fugir para Inglaterra e daí partir para Espanha, fixando-se num colégio Jesuíta em Los Placeres (Pontevedra, Galiza). Em 1916 Jalhay estava em La Guardia (A Guarda, Galiza) participando em escavações arqueológicas na povoação castreja do monte de Santa Tecla (Teca ou Tegra) na margem direita da foz do rio Minho. Em 1919 foi ordenado sacerdote em Burgos (Castela e Leão, Espanha). Voltou à Bélgica em 1920 e quatro anos depois regressou a La Guardia iniciando colaboração na revista jesuíta Brotéria (excelente revista! Quero registá-lo aqui). Em Portugal as convulsões republicanas de década e meia direccionaram a política para outras saídas, e a 28 de Maio de 1926 foi imposta uma ditadura militar que deixou a República e a Democracia à espera, dormitando à porta do Parlamento (sendo acordada com ramos de cravos vermelhos 48 anos depois, numa madrugada libertadora e sem tiros, em Abril de 1974). O católico António de Oliveira Salazar iniciava a sua ascenção em cargos políticos pela porta do Ministério das Finanças, e em 1928 os Jesuítas foram convidados a regressar a Portugal, estabelecendo-se, então, a Redacção da revista Brotéria, em Lisboa.
Foi assim que Eugénio Jalhay voltou à sua terra natal depois de 18 anos de fugas. Assumiu a direcção da Brotéria, e a sua costela de investigador da História dos povos de antanho levou-o a frequentar reuniões na Associação dos Arqueólogos.
(Continua)
(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) OV