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E o mistério dos mafaguinhos.

[Um leitor] pediu-me para explicar porque é que a vida não é um mistério. Tentei fazê-lo no último texto: «vida» é uma categoria arbitrária, com critérios flexíveis que aplicamos de forma diferente a coisas diferentes. Tal como o grande, o pequeno, o liso, ou o aborrecido, a vida não é um fenómeno que tenha que ser explicado. É mais uma das formas como classificamos as coisas.

[Esse leitor] não gostou da explicação, mas não explicou porquê. Pior ainda, não esclareceu o que queria dizer com «vida» nem identificou o mistério que queria explicado. É esta a fonte dos mistérios de muitos crentes.

Espiritual. Sobrenatural. Sagrado. Divino. Ou usar palavras com maiúscula. Toda a gente tem uma ideia do que é a verdade, por isso falam da Verdade, que é para não se perceber exactamente o que é. Os mistérios da crença assentam na ambiguidade de termos que não são definidos. Sendo incompreensíveis, não admira que sejam misteriosos.

É o mistério dos mafaguinhos. É apenas o mistério de não se saber de que raio se está a falar. Se fizessem um esforço para definir os termos dariam o primeiro passo para substituir o mistério por compreensão. Mas talvez seja esse o problema… é mais fácil venerar o misterioso que o compreendido.

——————————–[Ludwig Krippahl]

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