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Criacionismo e a (des)Informação

O Jónatas Machado comentou aqui que:

«O Ludwig Krippahl continua a tentar defender o indefensável, em momento algum explicando a alegada origem casual do DNA ou o modo como a informação genética é acrescentada ao genoma através de mutações e selecção natural. As primeiras, esmagadoramente deletérias, deterioram o genoma, como se de erros de software se tratasse»

Vamos lá então tratar disso. Primeiro, aproveito a analogia para mencionar a programação genética, iniciada por Holland em 1975. A abordagem é aplicar os mecanismos da evolução biológica a programas de computador. Gera-se aleatoriamente uma população de programas, recombina-se fragmentos ao acaso, introduzem-se mutações aleatórias, e põe-se tudo a competir no desempenho de uma tarefa. E funciona. Neste momento há 36 casos em que algoritmos gerados desta forma têm um desempenho ao nível dos algoritmos concebidos por programadores inteligentes. 21 destes duplicam métodos já patenteados e dois geraram métodos novos patenteáveis. E isto com umas dúzias de pessoas em trinta anos. Imaginem os resultados com todos os organismos do planeta a trabalhar nisto durante quatro mil milhões de anos.

O Jónatas dirá que os algoritmos que fazem as mutações e simulam a evolução são programados por humanos inteligentes, e estes também interpretam os resultados. É verdade, a analogia é fraca. Mas é a sua e mesmo assim funciona muito bem. Por mim, continuo a insistir que é errado ver o ADN como uma linguagem, ou programas de computador, ou planos de montagem, ou qualquer coisa que sugira inteligência. O ADN é uma molécula que reage com outras moléculas. Tem tanto de inteligente como a água ou o ovo cozido.

Mas isto hoje é sobre informação, outra palavra que engana. Considerem a frase «Ser ou não ser» Duas pessoas copiam esta frase, e escrevem «Ser ou não cer». À partida diríamos que se perdeu informação. Uma das pessoas era um aluno pouco atento lá se foi um bocado de informação. Mas a outra pessoa era um espião experiente. Usou o erro ortográfico cuidadosamente colocado para informar o seu contacto do local onde deixar os planos secretos que roubou. Um enorme ganho de informação.

Que raio… a mesma alteração num caso perde informação e noutro ganha. Evidentemente, não estamos a capturar bem o conceito de informação. Este problema já Shannon resolveu em 1948, mas resultados tão recentes não estão ainda difundidos entre os criacionistas:

«Frequentemente as mensagens têm significado, ou seja, referem-se ou estão correlacionadas com algum sistema com certas entidades físicas e conceptuais. Estes aspectos da comunicação são irrelevantes […] O aspecto significativo é que a mensagem em questão é uma seleccionada de um conjunto de mensagens possíveis»
[tradução minha]

A quantidade de informação contida numa mensagem é independente do significado que lhe damos. Depende apenas do que temos que especificar. Por exemplo, queremos transmitir um número com 6 dígitos. Há um milhão de combinações possíveis, por isso temos que transmitir informação tal que permita especificar uma de um milhão de possibilidades: 20 bits de informação. Não interessa para que vão servir os 6 dígitos.

Assim a informação de uma sequência é o número de possíveis sequências daquele comprimento com aqueles elementos. No caso do ADN há sempre 4 tipos de elementos, e a quantidade de informação é unicamente função do comprimento da molécula. Quanto mais ADN mais informação está contida na sequência. Isto quer vá controlar o desenvolvimento embrionário dum golfinho quer vá servir de pisa-papéis. Não interessa a função, como não interessa o significado da mensagem. Informação é apenas o necessário para especificar a sequência.

Assim é fácil ver como as mutações aumentam a informação. Ao introduzir sequências novas na população aumentam a informação contida na população (a evolução funciona com populações). E ao duplicar trechos duma sequência aumentam o seu tamanho, aumentando a informação nessa sequência. Duplicação seguida de outras mutações dá origem a trechos diferentes, e cada vez mais informação. No ADN isto funciona bem porque não são palavras nem frases. Enquanto uma palavra mutante provavelmente deixa de ser palavra, uma proteína mutante é tão proteína como qualquer outra, e se reage de forma diferente pode bem ser isso que o organismo precisa. E mesmo em software isto funciona.

Mais informação sobre programação genética:

http://www.genetic-programming.org/
http://en.wikipedia.org/wiki/Genetic_programming

——————————–[Ludwig Krippahl]

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