Crime sexual na Igreja, outra vez.
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Escrevi na Gazeta (edição de 15 de Novembro de 2018) que o jornal espanhol El País criou um canal para recolher testemunhos de crimes sexuais cometidos no interior da Igreja ou colégios religiosos, para memória futura mas também com a esperança de haver tempo para julgar em tribunal alguns dos casos narrados. Um desses casos foi noticiado na edição do mesmo jornal no último dia 7 de Setembro. Aí se dá conta dos actos de um clérigo “predador sexual”, praticados há 30 anos. Trata-se do monge Andreu Soler (já falecido, pelo que viveu incólume durante toda a sua vida). Segundo o jornal, foi “um predador sexual e um pederasta que abusou de um número indeterminado de menores no Mosteiro de Monserrat, com total impunidade, durante quase três décadas”.
Durante 40 anos o monge dirigiu o agrupamento católico El Nois de Servei, naquele mosteiro tradicionalmente considerado como o centro espiritual da Catalunha. A investigação dos actos do monge Soler, que o próprio mosteiro promoveu, concluiu terem sido diversos os actos sexuais criminosos, muitos dos quais ainda permaneciam na sombra, e cujo autor não foi, apenas, o frade Soler. Refere ainda um outro clérigo, identificado pelas iniciaias V. M. T. que “foi o responsável pelo grupo de meninos cantores mais antigo da Europa, e cometeu abusos sexuais em 1968”. A comissão investigadora diz que, na época, “se informou, com transparência, as famílias [das crianças cantoras] e o monge foi retirado de imediato, deixando o mosteiro em 1980 para contrair matrimónio”. O documento refere as atitudes diferenciadas dos dois pederastas nele tratados. Enquanto que V. M. T. foi capaz de “mudar de conduta”, Andreu Soler “fez do abuso um modo de vida, um padrão de conduta sem arrependimento nem propósito de mudança ou admissão de culpa”.
A comissão de investigação, que desde a sua criação em Janeiro deste ano recebeu 12 denúncias por correio electrónico e entrevistou oito vítimas, dedica parte do seu estudo a analisar o papel dos responsáveis da abadia, e conclui que “durante os abusos aos meninos cantores, cometidos por Soler pelo menos entre 1972 e 1999, se omitiu qualquer tipo de actuação”. A primeira denúncia contra Soler data de 1998, mas quem a recolheu e analisou diz ter encontrado “contradições nos relatos” pelo que, ao que parece, não a considerou. No entanto há testemunhas que garantem ter havido, mesmo antes dessa denúncia, “rumores suficientes dentro das paredes do mosteiro para justificarem uma acção” contra o monge Andreu Soler e retirá-lo do convívio das crianças cantoras.
O monge, falecido em 2008 “utilizou a violência contra algumas das suas vítimas que jamais apagarão da memória as consequências emocionais e psicológicas”. A comissão propõe que o mosteiro de Montserrat celebre um acto público do reconhecimento dos factos, e peça perdão às vítimas e à comunidade.
(Texto de Onofre Varela, a sair no jornal Gazeta de Paços de Ferreira do dia 19 de Setembro de 2019)
Perfil de Autor
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