Um país, dois pólos
Em 1930, o distrito com maior percentagem de casamentos civis era Beja, com 90%. O distrito com menor percentagem era Vila Real, com 3%. Três quartos de século depois, o distrito onde uma maior percentagem votou contra as indicações da hierarquia da ICAR foi Beja (84%), e o distrito do continente onde o «não» teve maior percentagem foi Vila Real (62%). Coincidência? Talvez não.
Quem conhece os indicadores de comportamento social dos portugueses (casamentos civis, filhos fora do casamento, presença nas missas, uniões de facto) sabe que existem, pelo menos desde o advento da República, dois pólos: o pólo do catolicismo, tipicamente situado ou em Braga ou em Vila Real (distritos ultrapassados ou igualados pela Madeira e pelos Açores em alguns indicadores), e o pólo da secularização, geralmente situado em Beja ou em Setúbal. Esta polarização tem atravessado as mudanças de regime e as convulsões sociais, mas pode ter os dias contados: num referendo em que o «sim» à legalização da IVG, comparado com 1998, subiu 11% a nível nacional, a subida máxima foi em Braga (+19%), enquanto em Vila Real foi de +14%. Em Beja, a subida percentual foi inferior à média nacional (+7%), e em Setúbal foi mínima (+0,1%). De um modo geral, os distritos onde o «sim» ganhara em 1998 subiram abaixo da média nacional de +11%, e os distritos onde o «não» ganhara em 1998 subiram acima da média nacional. As circunscrições que ficaram mais próximas da média nacional de 11% de incremento para o «sim» foram a Madeira, Leiria, Coimbra e o Porto. As maiores subidas percentuais do «sim» (Braga, Guarda, Bragança, Castelo Branco, Viseu, Viana do Castelo, Vila Real…) vieram de território habitualmente considerado «conservador»…
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]