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Ainda sobre santos

Por

ONOFRE VARELA

Na última edição da Gazeta falei de Frei Bartolomeu dos Mártires, o santo Português que dispensa milagres para o ser eque, por ordem do Papa Francisco, será canonizado em Novembro de 2020, 430 anos depois de ter morrido. Não sei se este longo tempo de espera para ser elevado aos altares transformará o nosso Bartolomeu no santinho dotado de mais paciência por esperar tanto tempo para ser santo… e, mesmo assim, parece que está impedido de fazer milagres substituindo os médicos do Serviço Nacional de Saúde na cura de doenças esquisitas e tidas por incuráveis.

Mas sei de um outro santo, também Português, que bateu o recorde de menos tempo de espera para subir aos altares: o Santo António. Nasceu a 15 de Agosto de 1195, morreu a 13 de Junho de 1231, e foi canonizado a 30 de Maio de 1232 (apenas 11 meses e meio após a morte!).

Se os processos de canonização merecem investigação demorada, para se poder fazer um estudo sério, peneirando muito bem a vida e os actos do candidato a santo, evitando santificar-se qualquer mafarrico, parece que com António de Lisboa e de Pádua, o crivo não foi necessário. Aquilo foi automático: morreu, santificou! Parece que se criou aí o verdadeiro Simplex, mais tarde adoptado por José Sócrates!

A vida de Santo António tem um caso curioso entre os muitos casos curiosos que lhe permitiram ascender ao altar das igrejas num abrir e fechar de olhos. Numa viagem marítima pelo Mediterrâneo, fazendo o trajecto Marrocos – Lisboa, uma tempestade naufragou a embarcação e o náufrago António foi ter a Itália. Se fosse hoje, o governo da Direita de Giuseppe Conte não seria hospitaleiro e devolvia-o à sua terra. Em consequência não haveria dúvida de que o santo António era mesmo de Lisboa, porque nunca lhe permitiriam pôr os pés em Pádua!

Uma outra santinha que viu Maria, a mãe de Jesus, numa gruta de Lourdes (França) em 1858, foi Bernardette Soubirous, menina de 13 anos, pastora e filha de moleiro pobre. Teve mais 18 visões da senhora de branco vestida, viveu até aos 35 anos, e 34 anos depois (1933), foi canonizada.

Parece que a mãe de Jesus é uma senhora pouco recatada! Quase todos os anos, e desde a Alta Idade Média, há quem a veja por aí, a aparecer inopinadamente em tudo quanto é sítio… mas nem em todos os sítios a levam a sério. Se o fizessem, havia mais santas com o nome de Maria, do que moscas!

A história de Bernardette serviu de matriz para a fabricação das aparições de Fátima, e a principal protagonista, Lúcia, que morreu em 2005, já tem o processo de santificação a correr, e é bem capaz de ganhar a Bernardette no tempo de espera para trepar aos altares. Isto agora, com as novas técnicas, é uma fervurinha…

(Artigo de Onofre Varela a ser publicado no jornal Gazeta de Paços de Ferreira, na edição de 25 de Julho de 2019)

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