O Estado relativamente laico e as capelanias absolutamente intoleráveis
Doentes, presos, militares e polícias, à semelhança de quaisquer crentes, podem recorrer aos ministros do culto das suas religiões, se isso lhes dá prazer ou conforto. Faz parte da liberdade religiosa, inerente a qualquer democracia.
Já não se percebe que os hospitais, prisões e quartéis tenham padres católicos privativos, os únicos que, na ditadura, tinham o monopólio desses espaços. É uma ofensa ao Estado laico e a prorrogação da regalia da Concordata de 1940, agora alargada às forças policiais, assinada no apogeu do fascismo, entre o Estado salazarista e o Vaticano de Pio XII, o Papa de Hitler.
Se o Estado permite que a Igreja católica domicilie os padres nos hospitais, prisões e quartéis, ainda que teoricamente aceite a invasão de outras confissões, não se percebe por que motivo os exclui das repartições de Finanças, centros de emprego, ministérios, autarquias, lojas do cidadão e outros organismos públicos.
Se é intenção capitular perante o proselitismo religioso, abdicar da ética republicana, ajoelhar perante as sotainas e esquecer a Constituição, é justo solicitar um sacristão para cada edifício público e uma freira para vigiar as consultas de planeamento familiar.
A Concordata de 2004, desnecessária e indigna de um Estado laico, foi uma concessão ao clero católico que cria desigualdades entre as várias religiões e ao País sujeições inaceitáveis.
Portugal recorda o ridículo das mais altas figuras do Estado a integrarem a comissão de honra da canonização de Nuno Álvares Pereira, herói nacional que a Igreja capturou. O PR e o presidente da AR caucionaram a cura do olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com óleo de fritar peixe, por intercessão de D. Nuno. Cavaco e Jaime Gama, exorbitando as funções, integraram a junta médica que confirmou o embuste e injuriaram todos aqueles que negam ao Estado competência para certificar milagres.
Agora é Marcelo que se desdobra em missas, procissões e outras diversões pias, genufletido e osculador dos anelões episcopais a mostrar que acima da República estão os encarregados dos negócios distritais da fé.
O Governo em vez de defender a laicidade no aparelho do Estado, como deve, abre as portas ao incenso e à água benta sem respeitar a pituitária e a pele dos que não suportam o odor do primeiro e o contacto da última, por alergia às benzeduras.
Lentamente, as sotainas vão invadindo o espaço público à semelhança dos países islâmicos, enquanto a ciência dá lugar à fé e a cidadania às genuflexões.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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