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Fundamentalismos

Por

ONOFRE VARELA

As relações entre os homens não são simples nem fáceis. Manifestam-semais complicadas na política, que é a arte de governar os povos, e nunca são pacíficas. Cada grupo social tem a “sua” verdade que é, sempre,oposta à “verdade” do outro. Todos os partidos políticos, em princípio, querem o bem para o país, mas estão em total desacordo com as práticas dos outros partidos que também procuram o mesmo “bem”, mas cujo modelo não coincide com o “bem” do seu entendimento. Cada um considera-se detentor da verdade que imagina ser única… e sua!

Quando se trata de entender a verdade sobre qualquer tema, eu só encontro uma verdade… que é a explicação científica. Mas mesmo essa está submetida a uma certa dúvida, cuja porta nunca é fechadadefinitivamente, já que a todo o momento pode haver uma investigação, um achado ou uma observação que pode comprometer aquilo que até aí era conhecido como verdadeiro.

As religiões são as “filosofias da Verdade”. Com maiúscula, porque sagrada!… Esta verdade com inicial maiúscula, é das verdades mais mentirosas que eu conheço!

Não é verdade que Maria engravidou sem relações sexuais, porque a natureza da gravidez só dispensa o acto sexual quando é conseguida em laboratório por inseminação artificial (o que não podia ter sido o caso de Maria).

Não é verdadeira a ressurreição de Jesus Cristo, se ele estava, deveras, morto… e não em coma.

Não é verdadeira a transformação da água em vinho, nem a multiplicação dos pães, nem o caminhar sobre as águas… que são fábulas puras… e, por aí… até é bonito!… Mas não é verdadeiro.

Não é verdade que os santinhos intermedeiam curas levando o recado a Deus que, com o seu poder sulfamida curativo, resolve o problema do olho da senhora Guilhermina que foi estragado com azeite a ferver. Seesta intermediação fosse verdadeira, tinhamos, no céu, o mesmo efeitoparasitário das “cunhas” que tão bem conhecemos… o que, convenhamos, não é digno de um Deus! (Ou será?!) E depois há aprópria ideia de Deus… que, assim, tal e qual como é pintado pelas religiões que o inventaram e adoram, não passa de um aborto de existência impossível de se concretizar.

O Fundamentalismo é isto… é o afirmar de “verdades” impossíveis de confirmação, mas sempre apregoadas com o estatuto de “única Verdade”.E o Ateísmo também tem os seus fundamentalistas… não se pense que só os profundamente crentes podem ter o estatuto de fundamentalista… os profundamente descrentes também podem sê-lo! Estive com um deles, numa varanda de uma associação em Lisboa, no intervalo de uma reunião de ateus. Na rua passava uma senhora muçulmana trajando de acordo com a prática típica do seu grupo social. O meu amigo insurgiu-se contra aquele modo de vestir… desconhecendo que vociferava contra uma vestimenta regional… que podia ser a de uma vianesa, ou a de um campino!… Fundamentalismos!…

(Artigo a sair no jornal Gazeta de Paços de Ferreira, na edição do dia 21 de Fevereiro de 2019)

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

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- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;

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- Colaborador do Jornal do Fundão;

- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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