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Inspectores Forenses da Vagina


A eleição da ateísta Michelle Bachelet está de facto a varrer as teias de aranha católicas do Chile, um dos países em que a manipulação social da Igreja de Roma é mais evidente mas em que lentamente a sociedade chilena se liberta dos condicionamentos sociais resultantes de uma ditadura sob os auspícios da Igreja Católica.

Assim, no passado dia 18 de Janeiro a Câmara de Deputados chilenos declarou admíssivel um projecto de lei apresentado por deputados do PS-PPD-PRSD que pretende suavizar as draconianas e católicas leis sobre o aborto no Chile, país em que este é ilegal em qualquer circunstância, mesmo para salvar a vida da mulher.

De facto, o aborto foi declarado ilegal no Chile em 1874, na sequência da declaração por Pio IX da imoralidade do aborto, que passou a ser desde 1869 um pecado merecedor de excomunhão automática.

Em 1931 foi criada uma excepção que permitia o aborto terapêutico, o Codigo Sanitario, que foi revogada em 1989 pelo católico exemplar Augusto Pinochet, um reconhecido defensor incondicional da vida.

Desde então que nem sequer em caso de uma gravidez ectópica é legal uma IVG, e a lei exige que o feto morra – o destino certo de uma implantação fora do útero – ou a trompa rebente para ser removido, colocando em sérios riscos a vida da mulher. Isto é, nem sequer é aceite no Chile o falacioso duplo efeito, o sofisma que, na interpretação «liberal» da doutrina católica, permite mutilar a mulher removendo uma trompa grávida ou um útero com cancro.

Situação de total proibição legal da IVG, mesmo em caso de perigo de vida da mulher, que o Chile partilha apenas com outros países em que a ditadura do catolicismo é real, como Malta, El Salvador, Nicarágua e até recentemente a Colômbia. Em mais algum país do Mundo esta situação se verifica, sequer nas teocracias islâmicas!

A situação de El Salvador, relatado num artigo imperdível publicado na New York Times Magazine em 9 de Abril de 2006 (a reprodução está disponível em pdf e html) é paradigmática já que a lei anterior que permitia o aborto terapêutico foi alterada apenas por influência política da Igreja, determinante num país do 3º Mundo maioritariamente católico, saído de uma sangrenta guerra civil e em altura de eleições.

Em 1995 João Paulo II nomeia arcebispo de San Salvador o Opus Dei Fernando Sáenz Lacalle, que sucedeu a dois simpatizantes da teologia da libertação, Arturo Rivera y Damas e Óscar Arnulfo Romero, assassinado por um esquadrão de morte da extrema-direita.

Lacalle cumpriu à risca a agenda obscurantista e integrista da seita a que pertence e, num país ainda dilacerado pela recente guerra civil, conseguiu poder político que lhe permitiu em 1997 impor na letra da lei a misoginia católica. Misoginia católica que neste país atinge as raias do rídiculo com um batalhão de polícias, detectives, médicos, uma divisão especial do procurador-geral e … inspectores forenses da vagina encarregues de salvar as almas das salvadorenhas a braços com uma gravidez indesejada, condenando-as à morte ou a uma estadia na prisão até 8 anos – ou entre 30 a 50 anos caso uma mulher «assassine» um feto viável – no processo.

Para além disso, por pressão da Igreja Católica, foi introduzida uma mui católica emenda à Constituição que na prática indica que a vida de uma mulher vale menos que um qualquer óvulo fertilizado!

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(continua)

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