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Portugal está mais secularizado do que a Espanha

O artigo do Semanário que a Palmira citou é um exercício de ficção política que raia a paranóia, e que foi nitidamente concebido para atacar Vital Moreira. Com todo o respeito por Vital Moreira, cujo currículo laicista é impecável, o jornal atribui-lhe duas acções que na realidade tiveram a sua origem em tomadas de posição da Associação República e Laicidade (o pedido de retirada dos crucifixos das escolas, e a nova lei do protocolo, na sequência da tomada de posse do PR). Mais, quando o Semanário atribui a Vital Moreira e aos «jacobinos ex-comunistas e anticlericais» intenções de «perseguir» a ICAR, esquece-se que a nova Lei do Protocolo de Estado é uma consequência directa do artigo 4º da Lei de Liberdade Religiosa, um diploma que levou a assinatura do católico militante António Guterres. E esquece-se também de que a presença permanente de símbolos religiosos em escolas públicas é vedada pela mesma lei e pela Constituição de 1976. Portanto, quando falam em «perseguição» a propósito destes assuntos, é o próprio regime constitucional que colocam em causa.

Mas, adiante. Escrevo este artigo principalmente porque a diatribe do Semanário merece ser refutada num ponto particular: afirma-se que «Sócrates não percebeu que essa deriva anticlerical em Portugal não teria o preço da espanhola (…) porque, ao contrário, em Portugal o peso da Igreja é ainda bastante significativo». O erro que consiste em considerar a Espanha actual «menos católica» do que Portugal é comum. Mas é um erro.

Vejamos alguns indicadores. A percentagem de casamentos realizados pelo registo civil, em Portugal, tem sido superior à percentagem espanhola pelo menos desde 1999, com ambas as percentagens em ascensão. Parece previsível, aliás, que o casamento civil passe a ser maioritário em Portugal já em 2008 ou 2009 (em 2005, a percentagem foi de 45%).

Quanto à percentagem de nascimentos fora do casamento, o cenário é o mesmo. Portugal tem maior proporção de nados-vivos de mãe não casada do que a Espanha, pelo menos desde 1999. Em 2005, Portugal já chegou aos 31%.

Conclui-se que, em Portugal, o afastamento em relação ao modelo de família católico é maior do que em Espanha. Os políticos deveriam meditar no significado político destes factos sociais.

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