O Público errou
Dada a relevância do mesmo reproduzo integralmente um texto da Associação República e Laicidade a propósito da invenção de mais uma guerra ao Natal. Apenas mais um exemplo da cristianovitimização omnipresente desde os primórdios do cristianismo e de que assistimos um regresso em força a propósito de tudo e mais umas botas:
O texto de ontem do Público, assinado por António Marujo, parece deliberadamente concebido para criar a ilusão de que existe uma campanha internacional para «proibir» alguns festejos desta época. Esta ilusão é construída através de erros factuais e distorções. Apontamos alguns de seguida.
- Alega-se que «um inquérito feito em Novembro revelou que três empresários britânicos em cada quatro proibiram decorações alusivas ao Natal». É falso. A pergunta colocada no inquérito (e que teve 74% de respostas positivas) foi: «admite banir decorações de Natal por se preocupar que possa ofender outras fés?» (?Do you admit to banning Christmas decorations because you are worried about offending other faiths??). Portanto, António Marujo omite (deliberadamente?) a diferença entre ter proibido, e admitir fazê-lo em determinadas circunstâncias, transformando uma hipótese num facto. António Marujo também parece ignorar que o mesmo inquérito alude a uma «obrigação legal de celebrar todas as fés» que não existe, o que levanta a suspeita de que seja um inquérito deliberadamente capcioso, formatado para provar a tese da «perseguição anti-cristã».
- António Marujo alega também que «a escola Hilarion Gimeno, de Saragoça (…) decidiu que este ano não haveria festas natalícias, para não incomodar as crianças de outras religiões». É verdade que não haverá festa, mas é falso que tenha sido «proibida», e a razão apontada por António Marujo não é citada pelo director da escola, que assume como principal motivação a falta de espaço físico na escola e a falta de tempo para cumprir o programa curricular.
- António Marujo cita ainda dois casos que (assumidamente) estiveram-para-acontecer-mas-não-aconteceram: um peru que não foi trocado por um frango (numa escola), e um rabino de Seattle que pediu que fosse colocado um candelabro ao lado das árvores de natal (num aeroporto), o que não lhe terá sido concedido.
- Finalmente, o artigo termina citando a despropósito uma nota da Associação República e Laicidade em que se criticava principalmente a demissão do Ministério da Educação de fomentar actividades na escola pública, ligadas a esta quadra e isentas de carácter catequístico. António Marujo parece implicar que a peça teatral em questão, ao retratar o «anjo Gabriel» e o «nascimento de Jesus», está a referir-se a «factos históricos que estão na origem do Natal». Ignoramos qual a base factual que sustenta estas últimas alegações, muito arriscadas num contexto que se pretende noticioso.
A propósito do mesmo artigo no Público recomendo vivamente a leitura do post «Quando o jornalismo sério parece ser proibido» no Renas e Veados.