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Menos fé, mais razão

Steven Arthur Pinker, durante 21 anos professor no Departamento do Cérebro e Ciências Cognitivas do Massachusetts Institute of Technology, MIT, antes de regressar a Harvard em 2003, um grande divulgador de ciência – recomendo os livros The Language Instinct, How the Mind Works, Words and Rules e The Blank Slate, The Modern Denial of Human Natureescreveu uma carta aberta em que critica o planeado requisito curricular «Fé e Razão» para o ingresso em Harvard.

Em primeiro lugar, a palavra «fé», neste e em muitos outros contextos, é um eufemismo para religião. Um exemplo egrégio são as «iniciativas baseadas na fé» da corrente administração [Bush], assim chamadas porque são mais comestíveis que «iniciativas baseadas na religião». Uma Universidade não deveria tentar esconder o que está a estudar atrás de códigos de palavras mornos-e-nebulosos.

Em segundo lugar, a justaposição das duas palavras faz parecer que «fé» e «razão» são formas paralelas e equivalentes de conhecimento e que temos de ajudar os estudantes a navegar entre ambas. Mas as Universidades tratam da razão, pura e simples. Acreditar pela fé em algo sem boas razões para o fazer não tem lugar em algo excepto uma instituição religiosa e a nossa sociedade não tem falta dessas instituições. Imaginem se tivessemos um requisito para «Astronomia e Astrologia» ou «Psicologia e Parapsicologia». Pode ser verdade que mais pessoas tenham conhecimentos sobre astrologia que sobre astronomia e pode ser verdade que a astrologia mereça ser estudada como um fenómeno histórico e sociológico significativo. Mas seria um erro terrível justapor astrologia com astronomia quanto mais não seja pela falsa aparência de simetria.

Gosto especialmente das conclusões, embora considere que a religião, nomeadamente o catolicismo, tenta recuperar na Europa a proeminência a que Pinker se refere, e eu concordo, como anacrónica:

Exponenciarmos a importância da religião como um tópico equivalente no seu alcance à ciência, à cultura ou à História do Mundo e assuntos actuais é dar-lhe demasiada proeminência. É um anacronismo americano, penso, numa era em que o resto do Ocidente progride deixando a religião para trás.

É reconfortante confirmar que o despertar da complacência e contemporização em relação às religiões por parte da comunidade científica não se restringe às ciências exactas!

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