Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres
A incapacidade de compreender e conviver com a diversidade e de aceitar que os direitos do Homem se referem também à mulher, mesmo quando disfarçadas por manobras de marketing, são o apanágio da Igreja de Roma. A Inquisição, uma das fontes privilegiadas para tipificar a intolerância, preservada na congregação dirigida durante décadas pelo actual Papa, especializou-se em difundir na sociedade civil o pensamento único e em perseguir ou estigmatizar todos os que ousassem questionar os ditames do Vaticano.
De facto, durante séculos fomos educados para a intolerância e para o radicalismo. Dogmas religiosos foram pacientemente secularizados como peças estratégicas para a preservação de grupos e sistemas ideológicos. Urge quebrar paradigmas, ousar, como fizeram os demolidores de preconceitos de todas as épocas, sair do espírito de rebanho cultivado pelos que não toleram críticas ou divergências.
A sexualidade é o tema em que a influência nefasta do cristianismo, em todas as suas vertentes, especialmente a misoginia e a homofobia, contamina com mais virulência a nossa sociedade. Uma das faces da misoginia cristã, a relegação da mulher a um sub-humano sem direitos, é o tema onde os monolíticos preconceitos cristãos – de que muitos não percebem as origens – se têm demonstrado mais difíceis de erradicar da nossa sociedade, completamente condicionada até há escassos 30 anos pelos representantes locais da Igreja de Roma!
Hoje, o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, deveríamos reflectir porque razão, como é apontado por Dulce Rocha, vice-presidente da Associação Portuguesa das Mulheres Juristas, «Bater na mulher é um comportamento que é tolerado na sociedade».
Porque razão a PSP e a GNR registaram, apenas no primeiro semestre de 2006, 10.308 queixas por violência doméstica , o que significa que em seis meses pelo menos o mesmo número de homens considerou ser perfeitamente justificada a punição física de qualquer comportamento menos «próprio» da respectiva mulher/companheira.
Condicionadas pelo paradigma mariano da mulher que permeia a sociedade nacional, quantas mais mulheres não se queixaram por considerarem que o espancamento foi «merecido»?
De facto, a nossa é uma sociedade em que permanece anacronicamente o modelo cristão da mulher subjugada ao marido, aos filhos e à casa, uma sociedade que faz julgamentos de valor sobre os comportamentos das mulheres e que desdenha como «egoístas» e epítetos ainda menos simpáticos as que não seguem esse paradigma.
Modelo inculcado pelo matraquear incessante da Igreja de Roma, que não reconhece direitos – a que chama «exigências ‘para ela mesma’»- à mulher, apenas deveres, nomeadamente o dever de morrer por um qualquer óvulo fertilizado ou às mãos de um marido mais violento.
Igreja que santificou a violência conjugal ao apontar como exemplo a seguir Isabella Canori Mora, que preferiu morrer às mãos de um marido abusivo a «violar a santidade do matrimónio». Igreja que nega o direito à vida da mulher ao canonizar como «santa Mãe de Família» Gianna Beretta Molla, que preferiu morrer a abortar.
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