Vaticano «amargurado»
Se as pessoas se sentem ofendidas com uma marcha é graças a instituições como a ICAR que ajudam a propagar noções erradas e injustas sobre a sexualidade do ser humano. O Vaticano esquece-se que muitos dos que participarão nessa marcha são também judeus, muçulmanos e cristãos. E ignora todos os crentes que se entristecem pelo mundo fora com os preconceitos da Igreja. Não se sentiram eles também ofendidos pelo Vaticano?
A justificação apresentada espantar-me-ia se não fosse apresentada por quem é. O que está em causa é o direito à não-discriminação e à liberdade de expressão. Isso ofende os crentes porquê? É ofensivo fazer uma marcha? É ofensivo ter-se orgulho? Não. O que ofende os crentes é o facto de os outros serem homossexuais. Os crentes sentem-se ofendidos, veja-se, porque os outros não são como eles acham que deviam ser. Os crentes sentem-se ofendidos com a orientação sexual dos outros. Para os crentes, são pecadores os que querem marchar em Jerusalém e isso ofende-os. Isto é que são as «justas limitações» do Vaticano. A susceptibilidade arbitrária das pessoas, o seu humor volátil, o preconceito, o carácter sagrado de uma cidade que alguns julgam que lhes pertence simplesmente porque têm uma determinada fé de entre três. A liberdade ofende? Se a expressão ofende o Vaticano, o Vaticano não gosta dessa liberdade. É justamente a mesma justificação apresentada pelos fanáticos islâmicos em relação às caricaturas de Maomé.
Não esquecer que Bento XVI também “ofendeu” muçulmanos extremistas por causa de uma citação histórica. No exercício da sua liberdade de expressão, tão inviolável como a de qualquer outra pessoa, o papa viu-se a mãos com o mau humor de alguns muçulmanos que se mostraram muito ofendidos com a licenciosidade do bispo de Roma. Não haverá um único espelho em todo o Vaticano?