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A Santa Inquisição – Homenagem da C. M. Évora às vítimas

Hoje sabe-se mais sobre a origem, funcionamento, apogeu e fim da tenebrosa instituição da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), do que os indefetíveis devotos gostam e a Cúria romana desejaria.

O primeiro “Tribunal Público contra a Heresia”, da ICAR, nasceu em 1022, em Orleães (França), mas o ódio à heresia albigense (cátaros de Albi), superstição pior que a mais idiota e perversa das religiões, levou à criação do Tribunal da Inquisição, em 1184, no Concílio de Verona.

A Inquisição conservou a virtude, alterando o nome: ‘Suprema Sagrada Congregação do Santo Ofício’, em 1904, e ‘Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé’, com João XXIII, em 1965. Ainda hoje defende a doutrina criada no Vaticano com o entusiasmo com que os cães ‘Serra da Estrela’ afastam, dos rebanhos, os lobos famintos.

A Inquisição lembra as ‘Causas da Decadência dos Povos Peninsulares’ e a conferência de Antero de Quental, sob esse nome, integrada nas célebres Conferências do Casino.

Apesar de a Península Ibérica ter sido alheia à Reforma, a Contrarreforma atingiu aqui uma crueldade que urge recordar quando se procura branquear a Inquisição, considerada benigna, e quase indulgente, em relação à violência da época em que torturou e queimou judeus, islamitas, bruxas, calvinistas, hereges, bígamos, sodomitas e endemoninhados.

A nata intelectual da Contrarreforma era jesuítica, mas os inquisidores, com métodos eficazes para converter judeus e muçulmanos ao catolicismo, eram, sobretudo, membros da Ordem Dominicana. Nos autos de fé, festa pia, era vulgar ver o rei a assistir, em gozo místico, ao churrasco de bruxas ou de judeus sefarditas. De 1540 a 1794, os tribunais de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora condenaram às chamas 1.175 pessoas vivas.

Quando a santidade era, ainda e só, a indicação da função e estado civil (a canonização viria após a defunção e os milagres), João Paulo II pediu perdão “por erros cometidos ao serviço da verdade”, singulares palavras para designar 5 séculos de Inquisição, onde o fogo era gerido para prolongar a dor e os instrumentos de tortura abomináveis.

A inauguração de um memorial aos milhares de vítimas da Inquisição, para assinalar os 480 anos da criação do Tribunal do Santo Ofício, na Praça do Giraldo, em Évora, não é apenas uma homenagem a 1794 pessoas queimadas vivas por ordem dos Tribunais de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora, é um monumento contra a intolerância, a xenofobia e o totalitarismo das verdades únicas. Registe-se a data, 22 de outubro de 2016.

Parabéns à Câmara Municipal de Évora pela homenagem às vítimas da Inquisição.

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