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As religiões e as guerras

Política e religião são uma mistura explosiva, e é comum a promiscuidade entre ambas. A política alicerçada em pretextos religiosos e a religião, a servir objetivos económicos, foram sempre um fator potenciador de conflitos. É frequente a religião ser pretexto para defender interesses económicos, nacionalistas ou tribais, e para alterar fronteiras.

A posse da terra, os recursos naturais, o dinheiro, o poder político e a economia são bem mais importantes do que milagres e dogmas, para dividir os crentes e fomentar guerras.

A Reforma protestante não surgiu na Europa apenas por divergências teológicas ou pela luta contra as iniquidades papais, foi necessária para pôr fim ao feudalismo que impedia o advento da burguesia. Foi uma luta entre a evolução e o imobilismo, entre a sociedade medieval e o advento do capitalismo.

A Contrarreforma foi uma tentativa desesperada para deter a História e preservar pelo terror os privilégios eclesiásticos, com a trágica e irónica chegada a Portugal e Espanha, onde os ventos da Reforma protestante nem sequer sopraram.

Os séculos XVI e XVII ficaram manchados de sangue na Europa, dilacerada por guerras da fé. A Guerra dos Trinta Anos, de longa duração e crueldade, começou como guerra nas fronteiras religiosas, e terminou exclusivamente como guerra religiosa. Foi a Paz de Vestefália que, pela primeira vez, impôs a liberdade religiosa no espaço flagelado entre 1618 e 1648. Foi a última guerra religiosa generalizada na Europa.

Após o colapso da URSS e do fim da Guerra Fria, com a queda do Muro de Berlim, as sociedades laicas e secularizadas da Europa estão agora apavoradas com o regresso das disputas religiosas. A demência do Islão político tem dado excelente ajuda.

A Sérvia foi vítima do terrorismo islâmico e da inexplicável cumplicidade da Nato, com a comunicação social mundial a diabolizar Milosevic. Contra o direito internacional e os acordos assinados, foi-lhe alienada a província do Kosovo, agora protetorado da ONU, entreposto da droga e campo de treino da Jihad.

Na Irlanda do Norte os católicos e os protestantes mataram-se cristãmente, durante anos.

Nos Balcãs, após a independência da Eslovénia e da Croácia (crime instigado por Kohl e João Paulo II), prosseguiu a desintegração da Jugoslávia. Católicos, cristão ortodoxos e muçulmanos definiram as fronteiras com sangue e o fulgor da fé, como soe acontecer.

O Chipre acabou dividido entre os que rezam virados para Meca e os que se guiam pelo patriarca ortodoxo de Atenas.

Por todo o mundo os valores religiosos estão na base de guerras (Chechénia, Cachemira, Afeganistão, Próximo-Oriente, Sudão, Tibete, Timor, etc., etc… Até passa despercebido o interminável conflito do Sahel, com epicentro na Nigéria, onde o islamismo demente do Boko Haram e o protestantismo evangélico travam uma luta mortal pelo domínio de África. Cristãos (hoje, as maiores vítimas), hindus, budistas, judeus e islamitas (hoje, os mais implacáveis prosélitos) vão trucidando, com fé e bombas, os infiéis e a civilização.

No passado, a repressão política sobre o clero fez tolerantes as religiões cristãs. Agora é preciso exigir às que ameaçam a civilização, respeito pelo espaço público e discrição na forma de viverem a fé, o que só o Estado laico pode garantir a todas.

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

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- Colaborador do Jornal do Fundão;

- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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