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Prémio Nobel da Química 2006

O investigador norte-americano Roger D. Kornberg foi ontem distinguido com o Prémio Nobel da Química 2006. O cientista foi galardoado pelo seu trabalho sobre «a base molecular da transcrição eucariótica».

A resolução da estrutura atómica da ARN polimerase serviu de base a um trabalho extremamente elegante que foi decisivo para elucidar a nível molecular o mecanismo de transcrição em eucariotas ou eucariontes (organismos cujos células têm núcleo- todos os organismos multicelulares são eucariotas).

A transcrição é a leitura da informação contida nos genes ou fragmentos de ADN, informação transcrita numa molécula de ARN que é complementar à cadeia da dupla hélice de ADN «lida». É o primeiro de dois passos, transcrição e tradução referidos conjuntamente como expressão génica, necessários à produção de proteínas. A transcrição não se limita à expressão de proteínas já que o ARN tem outras funções para além de servir de ponte entre o ADN e a produção de proteínas.

A ARN polimerase é a principal enzima do complexo enzimático responsável pela transcrição do ADN em ARN. Ao contrário dos procariotas ou procariontes – organismos unicelulares, por exemplo bactérias, cujas células não têm núcleo – onde o processo de transcrição é relativamente simples, com apenas um co-factor designado por factor sigma, nos eucariotas existem uma série de co-factores necessários à transcrição, os factores de transcrição ou TFs.

Esta complicada coreografia molecular está directamente relacionada com o grau de complexidade celular encontrado nos organismos multicelulares. Estes organismos apresentam células especializadas, como um neurónio ou uma célula muscular, que necessitam expressar diferentes proteínas, isto é, de activar genes diferentes. Ou seja, a transcrição selectiva das dezenas de milhares de genes presentes numa célula determinam se esta se transformará num neurónio, numa célula muscular, do fígado ou se se mantém estaminal. E determinam se uma dada célula se desenvolve normalmente ou se transforma numa célula cancerígena.

Investigar como são activados os genes é uma questão fundamental em biologia, necessária, por exemplo, à diferenciação optimizada de células estaminais numa futura medicina regenerativa.

Enquanto o prémio Nobel da Química trata da activação e transcrição de genes, o prémio Nobel da Fisiologia e Medicina, atribuído segunda-feira aos investigadores norte-americanos Andrew Fire e Craig Mello, tem a ver com a desactivação ou silenciamento de genes.

De facto, os dois cientistas foram galardoados pela sua descoberta da interferência de RNA (RNAi), mecanismo que permite silenciar genes introduzindo na célula uma curta cadeia dupla de RNA complementar à sequência de RNA do gene a silenciar. Ou seja, este mecanismo, presente naturalmente não só em animais mas também em plantas como defesa contra vírus e para regular a expressão de cerca de 30% dos genes, permite, de forma simples e eficaz, manipular a expressão de um determinado gene. Para além de ser fulcral na investigação da função de uma determinada proteína, pode suprimir a expressão de uma proteína que esteja na origem de uma determinada patologia.

Por exemplo, pode ajudar a controlar os níveis de colesterol, como indicam estudos preliminares realizados em primatas em que se silenciou o gene que codifica uma proteína envolvida no transporte e metabolismo do «mau» colesterol.

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