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  • 23 de Dezembro, 2015
  • Por Carlos Esperança
  • Ateísmo

O eterno paradoxo e o perigo real de autoaniquilação

Por

Paulo Franco

Há muito que sabemos reconhecer o ser filosófico, espiritual e contraditório que existe em nós humanos. E o maior paradoxo que desenvolvemos é esta certeza curiosa de que quanto maior for o nosso conhecimento sobre o universo, ou sobre nós mesmos, acresce a nossa perceção da enormidade da nossa ignorância e pequenez insignificante face à imensidão do cosmos.

Se o conhecimento sempre foi, é e será fundamental para a nossa sobrevivência enquanto espécie, temos de perceber que os tempos mudam e com ele muda também o paradigma existencial da humanidade.

A humanidade nunca resolveu a bem a relação com a morte. A autoconsciência da finitude sempre foi e sempre será conflituosa e mal resolvida porque a nossa história evolutiva conduziu-nos sempre à preservação da existência (e portanto, à negação da não-existência).

Sendo verdade que a religião foi sempre péssima a dar respostas sobre as realidades do mundo, temos ao menos de reconhecer que o sucesso da religião deriva da sua magnifica capacidade para, pelo menos em parte, compreender os mecanismos da psicologia humana.

À força de repetirmos um milhão de vezes a nós mesmos que um tijolo é Deus, apesar de o nosso lado racional nos dizer que isso é ridículo, existe algo no nosso cérebro que preserva a fé e a esperança de que um tijolo é mesmo Deus. A religião sempre foi exímia a perceber a força avassaladora que a repetição de uma frase tem no autoconvencimento de uma proposição, por muito irrealista que essa proposição possa parecer.

O convencimento da ilusão autoinfligida em que a religião está mergulhada de que depois da morte, a existência será muito mais gloriosa, muito mais satisfatória; aliada às terríveis alusões dos livros sagrados para a necessária e justa aniquilação dos infiéis; coloca a humanidade face a um novo paradigma: a religião que nos ajudou a sobreviver no passado, pode agora conduzir-nos à aniquilação porque os meios tecnológicos de destruição nunca foram tão poderosos.

Os terroristas parecem ter todos uma perversa tendência para estarem encharcados de fé. Em algum momento, no futuro, adquirirão armas de destruição maciça. Nesse momento bem podemos estremecer de horror com a rejubilante alegria com que enviarão milhões de infiéis para o inferno numa fração de segundos. Eles parecem ansiar, com um grau de impaciência preocupante, pela concretização da profecia apocalíptica.

No passado, a Fé no Céu e no Inferno, por muito ridícula ou reconfortante que tenha sido, conduziu-nos à aniquilação de alguns milhares de cada vez. Hoje, a Fé no Céu e no Inferno pode conduzir-nos a aniquilação de vários milhões em segundos.

Há dias, em conversa com um crente amigo, fiz a previsão de que a próxima arma de destruição maciça será utilizada por um religioso radical. O meu amigo concordou e inclusive considerou que essa previsão nada tem de visionária. Qualquer pessoa hoje consegue prever que isso algum dia acontecerá.

Perfil de Autor

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- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

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- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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