As máfias de Deus e as outras
É conhecida a religiosidade dos mafiosos sicilianos bem como de agentes de profissões análogas, como passadores de droga, traficantes de armas e proxenetas, meros exemplos da harmonia entre o crime e a superstição.
Quando, há algum tempo, a cantora pop Madonna foi à Rússia e se fez coreografar numa cruz logo as poderosas máfias autóctones a intimidaram e chantagearam com ameaças aos dois filhos e marido.
Surpreende os incautos ver máfias e Vaticano do mesmo lado da barricada, defensores dos bons costumes e do respeito pela iconografia de que a religião se apropriou.
Entre 1979 e 1982, cinco cardeais referidos no inquérito do IOR (Banco do Vaticano) e do Banco Ambrosiano, com a média de 69 anos de idade e gozando todos de boa saúde, esqueceram-se de respirar. Sucedeu-lhes o mesmo que a João Paulo I cuja imprudência de revelar que iria fazer um inquérito ao IOR logo alertou Deus para a necessidade de o chamar à sua divina presença, como soe dizer-se em jargão religioso.
Em vida de João Paulo II, enquanto foi possível conservá-lo, a Santa Aliança (agência de espionagem do Vaticano) teve um papel muito activo na venda de armas à Argentina, durante a Guerra das Malvinas, no desvio de fundos do IOR para o «Solidariedade», de Lech Walesa e na lavagem de dinheiro da droga e de outras pias actividades.
O arcebispo Paul Marcinkus, Roberto Calvi, Licio Gelli e Michele Sindona, este último lavava dinheiro de heroína, tiveram uma relação íntima com Paulo VI, João Paulo II e cardeais da Cúria num triângulo que envolvia o IOR, o Banco Ambrosiano e a falsa loja maçónica P-2.
Foi Licio Gelli quem apresentou Somoza a Roberto Calvi. A Nicarágua converteu-se em refúgio seguro para o dinheiro «B» do Vaticano e o IOR, em troca, pagou grandes somas ao ditador.
A falência do Banco Ambrosiano só não causou maiores danos ao Vaticano porque são antigas as nódoas e tão frequentes que qualquer canonização lhes serve de lixívia. Mas custou muito dinheiro ao Papa.
Fonte: A Santa Aliança – Cinco séculos de espionagem do Vaticano, de Eric Frattini.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
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- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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