Síndrome de Estocolmo: Natasha Kampusch e Edgardo Mortara
Quando há uns tempos escrevi o post sobre o rapto de Edgardo Mortara pelo «último monarca absoluto da Europa», Pio IX, então reinando despoticamente nos Estados Pontificais, não faltou a defesa de mais um criminoso que a ICAR quer beatificar pelo nosso apologeta de serviço, o Bernardo.
Em defesa do crime do papa que inventou o dogma da infabilidade papal, o Bernardo invocou o testemunho de Mortara, então com dezanove anos, ou seja após 13 anos de clausura. O devoto do Comunhão e Libertação – que disse que na posição de Pio IX, se tivesse a sua…coragem(!?) faria o mesmo – apoia-se nesse depoimento para afirmar, já que «Estas palavras poderiam dar que pensar a certas cabeças, se porventura estas não acreditassem em contos de fadas acerca de ‘lavagens cerebrais’…» , que «Pio IX viu naquela criança algo de diferente» e por isso a raptou! Uma acção meritória que o testemunho do próprio Mortara após 13 anos de emprisionamento confirma!
Estou certa que Wolfgang Priklopil, o austríaco que raptou Natasha Kampusch quando esta tinha 10 anos (mais 4 anos que Mortara) e a manteve em cativeiro por 8 anos, sujeita a tortura psicológica e muito provavelmente abuso sexual, também viu «naquela criança algo de diferente». E, tal como Mortara, também Natasha defende o seu raptor e rejeita a família.
A única diferença é que Wolfgang Priklopil não é considerado um exemplo a seguir, como supostamente é o beato Pio IX. E ninguém, excepto Natasha, por enquanto pelo menos, alguma vez defenderá o seu crime, muito menos o reconhecerá como «um modelo de santidade»!