Vaticano diz não às células estaminais
Monsenhor Elio Sgreccia, que preside à Academia Pontifícia para a Vida afirmou numa entrevista à Rádio Vaticano que o método para obter células estaminais desenvolvido por cientistas da Advanced Cell, em Alameda, Califórnia, «não resolve os problemas éticos» desta área de investigação.
Assim, o Vaticano contraria as expectivas dos mais ingénuos, nomeadamente de Rui Reis, presidente da Sociedade Portuguesa de Células Estaminais e Terapia Celular, que considerou que com esta técnica «caem assim por terra os argumentos contra a investigação em células estaminais embrionárias, porque mantém a integridade do embrião», a mesma opinião de Daniel Serrão, católico e membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.
O novo método – descrito quarta-feira na Nature – consiste em colher um embrião numa fase muito primitiva de desenvolvimento e retirar-lhe uma única célula, que pode dar origem a uma estirpe de células estaminais embrionárias. O embrião, excedentário de fertilização in vitro, não é destruído no processo e mantém todo o seu potencial de desenvolvimento, embora o seu destino mais provável seja o lixo. Contudo, notou Sgreccia, o novo método não tem em conta que mesmo aquela única célula removida, uma célula totipotente, pode evoluir para um ser humano totalmente desenvolvido.
Ou seja, segundo os iluminados do Vaticano esta técnica é ainda mais reprovável que a anterior porque… destrói pelo menos 2 embriões, possivelmente incontáveis embriões, tantos quantas as células produzidas. De facto, como apontei pouco depois da sua eleição, em que previ que a ciência seria o inimigo a abater durante o seu papado, Ratzinger considera que se uma célula estaminal adulta é alterada para se tornar totipotente então deve ser considerada um embrião. Ou seja, todas as células estaminais, qualquer que seja a sua origem, um embrião ou a ponta de uma unha, são consideradas embriões pelo Vaticano.
Ou seja ainda, é pecaminoso e proibido aos católicos qualquer tratamento que corresponda ao «assassínio» de incontáveis «embriões», isto é, célulais estaminais, quaisquer que sejam as suas origens. Claro que a esmagadora maioria dos católicos se está bem nas tintas para as muitas proibições impostas pelo Vaticano. Assim, como em relação ao resto das imbecilidades decretadas pelos ditadores papais, não é difícil prever que os católicos ignorarão as ululações de Roma e não se coibirão de utilizar tratamentos com células estaminais, se estes forem disponibilizados.
Por essa razão, é igualmente prevísivel que os fundamentalistas católicos tudo farão para impedir que a investigação nessa área prossiga. O primeiro passo já foi dado por Trujillo que pretende excomungar latae senentiae, isto é automaticamente, cientistas que trabalhem com células estaminais e os políticos que aprovem leis permitindo essa investigação.
Mais ofensivas contra a ciência são esperadas do seminário que Bento XVI conduzirá em Castel Gandolfo, devotado a examinar a teoria da evolução e o seu impacto no catolicismo…