Um bom padre…
Era um bom padre, moderno. Nas suas homilias, não se limitava a debitar retórica plena de lugares-comuns; preferia a interacção com os fiéis.
Naquele domingo, a homilia versava sobre o tema “amizade” e a sua antítese, “inimizade”. Reforçava a nota, garantindo que toda a gente tem inimigos. E perguntava, em tom de desafio: “Algum de vós, aqui presentes, é capaz de garantir que não tem inimigos?” Ao fundo, a Dona Ermelinda levantou o braço, timidamente. O bom padre não hesitou: “Venha cá, minha senhora”. A custo, a velhinha aproximou-se. “Como se chama?”, perguntou o bom padre. “Ermelinda, ” respondeu a idosa. “E quantos anos tem, D. Ermelinda?” “Noventa e dois”. O padre não conseguiu esconder o espanto: “Noventa e dois anos, e diz que não tem inimigos?” “Não tenho, senhor padre! Nem um.” Com a voz já algo embargada pela comoção, o padre perguntou: “Dona Ermelinda, explique aos presentes como foi que conseguiu chegar aos noventa e dois anos sem ter um inimigo”. Respondeu a velhinha: “Morreram todos, esses filhos da puta!”