Um problema de saúde pública
Como qualquer outro problema de saúde, a crença num Deus ou a prática de uma religião deveriam ser tratadas como uma doença.
É, de facto, uma epidemia, ou melhor, uma pandemia que paralisa as pessoas individualmente, e até as nações no seu conjunto, e as impede de agir de modo racional.
E constitui uma ameaça cada vez maior para quem pretende viver simplesmente como um homem livre.
Porque as pessoas que acreditam em Deus não se contentam em viver, elas próprias, de acordo com os cânones que imaginaram que lhes foram divinamente transmitidos e que lêem babados num livro que lhes transmite uma mensagem de morte, de raiva e de medo.
Não: pura e simplesmente desconhecem o significado da palavra tolerância, e exigem que todas as outras pessoas vivam da mesma forma.
E persistem em formatar as sociedades e todos os cidadãos, crentes ou não, de acordo com as leis de alguém que não passa, afinal, do produto da sua infantil imaginação.
E que, pobres coitados, não imaginam sequer que não existe!
Quem acredita em Deus nem sequer se apercebe de que não é livre.
Vive a sua vida com uma espécie de «câmara de vídeo» permanente atrás de si, que o vigia, que lhe espiolha os gestos e até mesmo os pensamentos.
Vive num medo constante.
E vive em constante remorso.
Vive diariamente em pânico de desagradar, de pecar, de sair dos eixos, de “cair em tentação”.
E de pagar por isso na «vida eterna» que imagina que existe, sem sequer saber muito bem onde.
E, por isso, vive em constante troca de favores e em negociações abjectas com Deus, pedindo-lhe humildemente perdão de mãos respeitosamente postas e entre duas orações standardizadas, sem se aperceber da ridícula indignidade que isso representa para um ser humano.
Mas mais: quem acredita em Deus nunca saberá ao certo se é verdadeiramente uma pessoa honesta.
Porque se a honestidade é também «aquilo que as pessoas fazem quando ninguém está a ver», então um crente nunca saberá que não roubou, que não enganou, que não fez batota num jogo de cartas simplesmente por uma questão de ética ou de princípio pessoal, ou se não o fez porque algures “alguém o estava a ver” ou porque isso é “pecado”.
E o “pecado” é uma coisa terrível: até o sexo é pecado!!!
E o que é mais triste, é que quem acredita em Deus nem sequer se apercebe de como tudo isto é tão ridículo, tão patético e tão pouco saudável.
Como é de facto muito pouco saudável passar a vida a pedinchar, a entoar cânticos ridículos, a auto-amesquinhar-se, a bajular e, das formas mais abjectas, a louvaminhar imbecilmente alguém que pura e simplesmente… não existe.
E tudo isto para quê?
Para endrominar Deus e comprar-lhe um lugar “no outro mundo”!
Contudo, ao longo da História dos Homens o que é verdade é que Deus tem servido de pretexto para a maior parte das guerras e como desculpa para os maiores e mais inimagináveis massacres.
Ao mesmo tempo, esse mesmo Deus, e ainda hoje assim é, tem servido de barreira e de persistente entrave ao desenvolvimento das ciências, das artes, da cultura e da civilização humanas.
Penso que já é tempo de se fazer uma verdadeira avaliação do papel que Deus desempenha nas sociedades modernas.
Porque Deus é, de facto, uma doença.
Uma doença com cura, mas uma doença.
Deus é um vírus.
Uma vírus que se espalha, que é contagioso, que infecta tudo, e corrói até a dignidade humana.
Por isso, mais ainda do que uma doença, Deus é, acima de tudo e cada vez mais, um problema de saúde pública!