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  • 22 de Agosto, 2014
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

Os tortuosos caminhos da fé

Quando alguém se converte, na política ou na religião, é um herói. Se deserta, é traidor. É deste maniqueísmo que se alimenta o poder e se forjam os juízos morais.

Há quem morra por um mito e mate por uma utopia, quem se imole na apoteose da fé ou assassine na esperança de uma vida melhor de cuja existência não há o menor indício ou a mais leve suspeita.

Se um pobre, embrutecido pelo álcool e com o raciocínio embotado pela fome, mata ou rouba, é um criminoso. Se um indivíduo é impelido para a barbárie pela demência da fé e a crença na eternidade, é um mártir. É demasiado ténue a diferença entre a abnegação e a estupidez, a linha que separa o herói do pusilânime, e subtil o motivo que provoca a raiva ou o afeto.

A moral é a ciência dos costumes e não a vontade de um ser imaginário. Os homens de hoje são mais humanos do que os seus antepassados e repugna-lhes executar a vontade de um ente irreal em cuja crença foram fanatizados desde crianças. Essa evolução feita com o sangue dos livres-pensadores, com o sacrifício dos visionários e a abnegação de quem, tendo convicções profundas, respeita as alheias, não parece globalizar-se.

Permanecem escravos de constrangimentos sociais, vítimas de discriminação de género e embrutecidos por pregadores, milhões de indivíduos que se ajoelham a horas certas e rezam cinco vezes por dia, num ritual que tolda a inteligência e embota a sensibilidade.

Hoje, o medo espalha-se, e o confronto, que julgávamos impossível entre a civilização e a barbárie, vem aí. A lapidação de adúlteras e a decapitação de infiéis é inflamada pelos pregadores do ódio e homens de virtude, num regresso agressivo a práticas medievais.

A laicidade foi uma conquista obtida contra fogueiras e excomunhões, contra clérigos e catequistas, contra papas e reis, na caminhada que levou a Europa à separação da Igreja e do Estado, com os clérigos proibidos de legislar e os governos de dizerem missa.

Não permitiremos, em nome do multiculturalismo, que a arquitetura jurídica da Europa seja ameaçada com fanáticos que se vingam da civilização falhada com a violência de uma fé anacrónica.

O Estado Islâmico é o poder absoluto de origem divina que ensanguentou a Europa, é a demência de um manual terrorista recitado e praticado com a loucura tribal, é a droga que se entranhou numa civilização falhada e que seduz uma juventude sem horizontes.

Temos de ser vigilantes para não sermos vigiados e degolados. Urge combater crenças e respeitar os crentes.

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

- Sócio da Associação 25 de Abril

- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;

- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida

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- Colaborador do Jornal do Fundão;

- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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