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Revisionismo histórico e cristianovitimização

O ditador croata Ante Pavelic, líder dos católicos Ustase, com monges franciscanos. Os franciscanos foram muito activos no genocídio de sérvios, judeus e ciganos na ex-Jugoslávia.

O texto «A Igreja é novamente a Igreja dos mártires», distribuído como suplemento do número de 8 de Dezembro de 2004 do jornal oficial do Vaticano, o «L’Osservatore Romano», afirma que no século XX o cristianismo experimentou a maior perseguição da sua história:

«Com segurança, posso afirmar que, desde sempre, o martírio formou parte da vida da Igreja», sublinha Novak no texto, citando por exemplo a perseguição do povo arménio, os mártires mexicanos e espanhóis (da Guerra Civil), o período nazista e o do comunismo, assim como o actual.

Este parágrafo, uma alusão à tentativa de lavagem da História do Holocausto pela ICAR, que considera que uma mentira muitas vezes repetida acaba por ser aceite como verdade, insere-se na linha de revisionismo histórico bem patente na carta apostólica Tertio millennio adveniente de 1994 em que João Paulo II, depois de dar o mote para o texto supracitado dizendo que «No nosso século, voltaram os mártires» afirma:

«Pio XI teve de medir-se com as ameaças dos sistemas totalitários ou desrespeitadores da liberdade humana na Alemanha, na Rússia, em Itália, em Espanha e, antes ainda, no México. Pio XII interveio no âmbito da gravíssima injustiça representada pelo desprezo total da dignidade humana, que se verificou durante a segunda guerra mundial».

Considerando que os regimes totalitários europeus, com a excepção óbvia do caso russo, foram instalados com a ajuda da Igreja Católica estas afirmações são no mínimo aberrantes. Com declarações completamente falsas como estas não admira a sanha com que o seu teólogo de estimação ataca os «cristofóbicos» intelectuais europeus que insistem em investigar a História e em provar como falsas as declarações do Papa.

Percebe-se que João Paulo II seja um revisonista histórico uma vez que teve de seguir o juramento anti-modernidade, instituído por Pio X em 1910 e em vigor até 1967, que, entre outras pérolas, rezava «Também condeno e rejeito a opinião dos que dizem que um cristão esclarecido deve assumir uma dupla personalidade – a de um crente e ao mesmo tempo de um historiador, como se fosse permissível a um historiador sustentar algo que contradiz a fé do crente».

Mas as barbaridades históricas proferidas quer por João Paulo II quer pela sua correia de transmissão George Weigel merecem uma análise mais profunda. É fácil comprovar que são barbaridades históricas com pouco mais que o recurso a encíclicas e restante tralha debitada profusamente pelo Vaticano, que a maioria dos crentes desconhece.

É sempre importante analisar a História, mas é especialmente importante nesta altura em que, despojados das máscaras de tolerância e laicidade impostas pelo vergonhoso papel desempenhado pelo Vaticano na II Guerra Mundial – cuja limpeza de imagem ditou o concílio Vaticano II – os censores moralistas de Roma retomaram as suas prelecções obsessivas contra os ideólogos do mal, protagonizados por todos os que não só não aceitam os dogmas que debitam, como se recusam a permitir que seja o Vaticano a ditar as leis que regem os respectivos países.

Tal como Marco Pórcio Catão, o objectivo dos pregadores é exponenciar o ódio das populações contra esses supostos ideólogos do mal. Os frutos da campanha de intolerância do Vaticano contra os que não acatam os seus ditames são bem conhecidos dos colaboradores do Diário Ateísta, considerados servidores de «Satanás e seus Demónios», por um piedoso leitor que mais nos informou por mail ser «Pena não haver nos dias de hoje o Santo Oficio, Jesus disse ‘arvore que não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo’, a Inquisição, infelizmente mal sucedida, livrou alguns da heresia» – aliás, opinião «benevolente» em relação à Inquisição partilhada por alguns dos devotos do movimento «Comunhão e Libertação», emulador do Opus Dei, que comentam nestas páginas.

A democracia, indissociável do pluralismo, da liberdade de opinião e expressão e da tolerância, foi uma conquista árdua contra o totalitarismo e intolerância da Igreja. Urge a vigilância da intolerância religiosa para que o fim desta história não seja o retorno da história, isto é, da militância religiosa das guerras «santas» e da sanha persecutória da Inquisição, desejadas por muitos! E para isso urge o desmascarar das pretensões revisionistas da ICAR!

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