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  • 8 de Julho, 2014
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

Em nome da liberdade (4)

Um breve olhar pelas religiões do livro – os três monoteísmos.

O Antigo Testamento, conjunto de escritos de matriz comprovadamente hebraica, em boa parte escrito em aramaico, é uma notável obra literária cujas fraudes não anularam o enorme valor histórico. Reflete o pensamento das tribos patriarcais que criaram um ser supremo, antropomórfico, à imagem e semelhança dos homens de então, enaltecendo-lhe, na dilatação das virtudes imaginadas, os defeitos de que eles próprios enfermavam.

O espírito violento, vingativo, misógino, xenófobo e homofóbico, é a réplica apoteótica da mente tribal dos patriarcas do «povo eleito». É desse livro bárbaro que nasceram os Livros da Lei (Tora), os livros dos profetas e os escritos, judaicos, e os livros que, sem renúncia ao A. T., igualmente se inspiram o cristianismo e o islamismo.

Urbano II foi um piedoso papa da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) do fim do século XI e não um biltre de excecional perversidade. Era um pregador que lera a Bíblia com intensa devoção, que, além de cristianizar a Sicília e a Campânia, quis pôr termo ao Grande Cisma do Oriente, e que, no Concílio de Clermont-Ferrand (1095), convocou os cristãos para a guerra contra os “infiéis” muçulmanos, a fim de reconquistar Jerusalém.

As Cruzadas foram o corolário lógico do Novo Testamento, os quatro evangelhos que o génio de Paulo de Tarso inspirou para transformar o Deus do povo eleito num Deus para todos os povos conhecidos ou a descobrir. Grave era o louvor dessa barbárie, celebrada ainda no início do terceiro quartel do século XX, com as crianças a fazerem a comunhão solene, vestidas de cruzados, com prosélita intoxicação. Jesus, um judeu que se dedicou aos milagres e à pregação, jamais imaginou que o fariam a estrela da nova fé.

O cristianismo é uma das várias cisões do judaísmo que Paulo de Tarso instigou e que o Imperador Constantino, persistindo mitraísta, adotou para cimentar o Império Romano, onde a seita se popularizara, e a converteu em religião de Estado, imposta cada vez mais violentamente pelos imperadores Teodósio (finais do séc. IV) e Justiniano (séc. VI).

O proselitismo e o antissemitismo foram as características que mais distinguiram a nova religião do judaísmo, entendendo-se a segunda pelo ódio que os trânsfugas imprimem contra a ideologia de que dissentem. Os quatro Evangelhos (Marcos, Lucas, Mateus e João) e os Atos dos Apóstolos têm cerca de 450 versículos explicitamente antissemitas, «mais de dois por cada página da edição oficial católica da Bíblia», segundo Daniel Jonah Goldhagen (in A Igreja católica e o Holocausto).

O Islamismo é uma cópia grosseira do cristianismo a que falta a influência da cultura helénica e do direito romano, essencialmente civilista, agravado pelo espírito belicista. Evocar as Cruzadas, a evangelização, a Contra-Reforma, a Inquisição, as (re)conquistas cristãs e o antissemitismo da ICAR, é recordar que a demência islâmica não é inédita, é apenas uma recidiva obsoleta de uma religião que se sente aturdida pela globalização e é a boia de uma civilização falhada – a árabe –, que quase só produz petróleo, devoção e terrorismo. Porém, no seu primarismo, tem enorme sedução, que a fez alastrar a povos não árabes, como o Irão, Turquia, Bósnia-Herzegovina, Kosovo, países africanos não árabes, e intoxica progressivamente a Europa e os EUA, com a complacência beata de Estados que ignoram as madraças e mesquitas onde se difunde o ódio e se apela à jihad.

O cristianismo ortodoxo tem como matriz um direito político que impede verdadeiros Estados de direito, onde a religião e o Estado vivem sempre em união de facto.

No Islão, a referência jurídica é o direito teocrático que molda o carácter totalitário do poder onde desde as orações ao vestuário, da alimentação às relações de género, tudo está sob escrutínio do mais implacável dos monoteísmos e da maior ameaça religiosa à civilização, cultura e modernidade que inspiram os Estados modernos. Sob o pretexto do multiculturalismo, a lepra fascista de um islão demente avança, enquanto o mundo civilizado vacila e treme sem encontrar a resposta eficaz para a sua contenção.

Diga-se em boa verdade que o catolicismo só admitiu a liberdade religiosa na segunda metade do século XX, no Concílio Vaticano II, e que foi graças à repressão política do clero que a laicidade se impôs e a democracia vingou, mas torna-se assustador saber que 18% do exército que promove a jihad é de origem europeia e que esses jovens, com um pensamento medieval e treino militar com armas do século XXI, vão regressar.

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

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- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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