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Uma Mancha no Passado

O Papa Bento XVI nomeou como novo Secretário de Estado do Vaticano o Cardeal Tarcisio Bertone.

Bertone, que é também Arcebispo de Génova e tem 72 anos de idade, irá suceder neste cargo (que é assim uma espécie de Primeiro-ministro do Vaticano), ao Cardeal Sodano que aos 78 anos atingiu o limite de idade de 75 anos que está estipulado no Código de Direito Canónico.

O Cardeal Tarcisio Bertone parece indiscutivelmente ser a pessoa indicada para este cargo de altíssima responsabilidade.
De facto, Bertone foi de 1995 a 2002 o braço direito do Papa Ratzinger na Congregação para a Doutrina da Fé, que como toda a gente sabe é o eufemismo actualmente utilizado para a Santa Inquisição.
Mais recentemente, Tarcisio Bertone ficou conhecido por ter dado a cara pela campanha desenvolvida pelo Vaticano contra a exibição do filme «O Código da Vinci».
É, na verdade, um currículo invejável.
Como é óbvio, o Papa está no seu pleno direito de nomear quem muito bem lhe apetecer e quem ache mais adequado para o desempenho dos mais diversos cargos no Vaticano.
Até porque a sua infalibilidade lhe garante sempre uma escolha acertada.
Mas há uma indelével mancha no passado do Cardeal Tarcisio Bertone, uma maldade por si impiedosamente praticada, que eu não posso de forma alguma tolerar, e muito menos entendo que tenha sido esquecida pelo Rotweiller de Deus, o Papa Bento XVI.
Foi no final dos anos 90:
O arcebispo de Lusaka, na Zâmbia, o Monsenhor Emanuele Milingo resolveu um belo dia aderir a uma seita animista e esotérica, com ligações à célebre «Igreja da Unificação», do famoso e inefável Reverendo Moon.
Vai daí, o bom do Emanuele Milingo largou a Igreja Católica e casou-se em Nova York, numa cerimónia religiosa colectiva, com uma grande-sacerdotisa da tal seita animista, uma senhora de nome Maria Sung Ryae Soon, tida como pessoa de grandes dotes e ainda por cima especialista em acupunctura.
Estava o Emanuele posto em sossego, a desfrutar os prazeres e colhendo o doce fruto do leito e dos conhecimentos esotéricos da sua nova consorte, e a preparar já a fundação de uma «Igreja Paralela» em África, quando a galhofa internacional obrigou o Papa João Paulo II a fazer alguma coisa.
Foi precisamente o novo Secretário de Estado do Vaticano, o Cardeal Tarcisio Bertone, quem na ocasião foi escolhido para a delicada missão de recolher a ovelha tresmalhada.
Então, apelando aos seus melhores dotes de argumentação, e certamente com a ajuda do Divino Espírito Santo, que sozinho não ia lá, Bertone lá conseguiu convencer o coitado do Emanuele Milingo a abandonar a seita animista, a desistir dos seus planos de criação de uma Igreja Paralela, a divorciar-se da grande-sacerdotisa e a abandonar o seu leito conjugal e os prazeres da carne e da acupunctura que ela lhe proporcionava e, pasme-se, a regressar ao seu cargo de arcebispo e ao seio da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana.
– Ora, isto não se faz!!!

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)


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