Espinoza e as perseguições católicas
Por
Paulo Franco
Numa época breve mas esplêndida no séc. XVIII, a Holanda foi a anfitriã tolerante
de muitos livres-pensadores como Pierre Bayle e René Descartes (que se mudaram
para lá para se sentirem seguros).
A Holanda foi igualmente o país onde nasceu o grande Baruch Espinoza, um descendente dos judeus espanhóis e portugueses que tinham emigrado para a Holanda para se livrarem de perseguições. No entanto, sendo Espinoza um livre-pensador altamente crítico do pensamento religioso da sua época (sendo actualmente considerado o pai do criticismo bíblico), no dia 27 de julho de 1656, os anciãos judaicos da sinagoga de Amesterdão proferiram a seguinte condenação relativa ao seu trabalho:
“Com o julgamento dos anjos e dos santos excomungamos, deserdamos, amaldiçoamos e anatematizamos Baruch Espinoza, com o consentimento dos anciãos e de toda esta congregação religiosa, na presença dos livros sagrados: pelos 613 preceitos que
aqui estão escritos, com o anátema por meio do qual Josué amaldiçoou Jericó, com a praga que Elisha rogou aos seus filhos e com todas as pragas que estão escritas na lei. Amaldiçoado seja de dia e amaldiçoado seja de noite. Amaldiçoado seja a dormir e amaldiçoado seja acordado, amaldiçoado ao sair e amaldiçoado ao entrar. O Senhor não lhe perdoará, a ira e a fúria do Senhor serão doravante ateadas contra este homem, e serão lançadas sobre ele todas as pragas que estão escritas no livro da lei. O senhor destruirá o seu nome sob o sol e expulsá-lo-á de todas as tribos de Israel por toda a sua desgraça, com todas as pragas do firmamento que estão escritas na lei.”
Esta condenação múltipla, repetitiva, infantil, e maldosa terminava com uma ordem a todos os judeus para evitarem qualquer contacto com Espinosa e para se absterem, sob pena de castigo, de ler qualquer texto composto ou escrito por ele.
O Vaticano e as autoridades calvinistas da Holanda aprovaram com veemência esta histérica condenação judaica e aderiram à supressão de toda a obra de Espinosa levada a cabo na Europa.
Os aspetos mais relevantes da obra de Espinoza, que levaram as instituições religiosas a
aderir a todo este absurdo, foi o simples facto de Espinoza colocar em causa a imortalidade da alma, e de pedir a separação da Igreja e do estado.
Até hoje, nenhuma das instituições religiosas envolvidas tiveram a dignidade de pedir desculpa (que eu tenha conhecimento) por este comportamento atentatório da liberdade de pensamento.
Baruch Espinoza é hoje reconhecido como o autor da obra filosófica mais original jamais elaborada sobre a distinção entre a Mente e o corpo; e as suas meditações acerca da condição humana providenciaram mais consolo real às pessoas sérias do que qualquer religião.
NOTA: Este texto foi inspirado no livro de Christopher Hitchens “Deus não é grande”.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
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- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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