A Pergunta Certa
No passado domingo o Papa Bento XVI, visitou o campo de concentração de Auschwitz.
Foi neste campo de concentração, célebre pela ironia cruel das palavras «Arbeit Macht Frei» (o trabalho liberta) inscritas no alto do portão de ferro da sua entrada, que durante os anos de ocupação alemã foram praticados os mais horrendos crimes que a História da Humanidade já conheceu.
Decerto impressionado pelo tremendo peso histórico daquele local e tocado pela memória de quase dois milhões de seres humanos, a maior parte judeus, que ali morreram no meio do mais indizível sofrimento, o Papa Bento XVI perguntou, claramente comovido:
«Onde estava Deus naqueles dias? Porque ficou Deus silencioso? Como pode Deus permitir este infindável massacre, este triunfo do mal?»
Mas Bento XVI não fez certamente as perguntas correctas!
Visitando como Papa, enquanto líder máximo da Igreja Católica, um local de tanto sofrimento, talvez a pergunta mais adequada que Bento XVI deveria ter feito era:
– Durante os massacres de Auschwitz, onde estava Pio XII? Onde estavam todos os responsáveis do Vaticano? Como puderam eles ficar silenciosos perante este infindável massacre, este triunfo do mal?
E então, talvez bem a propósito, lhe surgissem tantas outras perguntas, há tanto tempo ainda sem resposta.
Por exemplo:
Por exemplo:
– Durante os massacres de Lenine e Estaline, onde estava Pio XI? Como pode ele ficar silencioso perante este infindável massacre, este triunfo do mal?
– Durante as ditaduras em Portugal e Espanha, durante as ditaduras militares da América do Sul, durante os massacres de Pinochet, Videla e outros que tais, onde estava Paulo VI? Como pode ele ficar silencioso perante este infindável massacre, este triunfo do mal?
– Durante os massacres de Mao Tse Tung e de Pol Pot, onde estava João XXIII? Como pode ele ficar silencioso perante este infindável massacre, este triunfo do mal?
– Durante os piores anos destas mesmas ditaduras, durante todos estes massacres em todos os continentes, onde estava João Paulo II? Como pode ele ficar silencioso perante este infindável massacre, este triunfo do mal?
– Durante os mais negros anos da Inquisição, por exemplo durante Tomás de Torquemada, onde estava Inocêncio VIII? Como pode ele ficar silencioso perante este infindável massacre, este triunfo do mal?
– Durante o processo de Galileu, onde estava Urbano VIII? Como pode ele ficar silencioso perante este infindável massacre, este triunfo do mal?
– Durante a imolação pelo fogo de Giordano Bruno, onde estava Clemente VIII? Como pode ele ficar silencioso perante este infindável massacre, este triunfo do mal?
Ou seja:
A pergunta certa não é, pois, «onde estava Deus?».
A pergunta certa não é, pois, «onde estava Deus?».
Esse, como é hábito, tem as costas largas e nós já sabemos onde estava:
– Estava no sítio do costume!
– Estava no sítio do costume!
Muito pelo contrário, a pergunta certa deveria antes ser:
– Onde estavam os homens?
(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)