Dia da Mulher
Eu acho giro o “dia da mulher”. Assim como o “dia da criança”, o “dia do avô” e, de um modo geral, todos os “dias do”, seja do que for. Estou a lembrar-me de uma luminária que até queria criar o “dia do cão”, certamente para o pôr em paralelo com outro “dia do”, ou “da”, qualquer. Mas o “dia da mulher” é diferente, no fim de contas, um dia passa depressa e temos os outros 365 para pôr a mulher onde se deve: na cozinha, e nas quotas partidárias. E no hospital, quiçá na morgue. Ou seja, podemos continuar, alegremente, com a nossa hipocrisia social. Estou convencido, aliás, de que hoje, “dia da mulher”, nenhuma vai ser assassinada pelo companheiro, ou ex-companheiro. “Dia da mulher “é para se respeitar, e no ano passado, 2013, mais de três mulheres por mês foram assassinadas, mas, se a memória não me atraiçoa, nenhuma delas o foi no “dia da mulher”. O que já é um sinal positivo, como diria um dos nossos inefáveis políticos de pacotilha.
Há pouco, num canal de TV, e não me perguntem qual porque eu já tenho calo no dedo polegar por causa do “zapping”, um anúncio publicitário proclamava que “Março é o mês da mulher”, o que representa um progresso inquestionável, suponho que uma conquista irreversível, já que de um mísero “dia da mulher” se passa para o “mês da mulher”. Com jeitinho, ainda chegaremos ao “trimestre da mulher”, daí saltaremos para o “semestre da mulher”, e não tarda nada estaremos no “ano da mulher”, nada de confusões, singular é singular, plural é plural e escreve-se sempre com “o” e sem acento circunflexo no “a”.
Estou à espera que alguém se lembre, também, de instituir o “dia da hipocrisia”. Apenas para o tornar diferente dos outros dias.