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Uma serpente com pernas


Os últimos tempos têm sido fertéis na descoberta de fósseis de transição entre espécies, evidências indiscutíveis da evolução que os fundamentalistas cristãos negam acefalamente em favor da sua absurda mitologia.

Na última Nature (link para o resumo do artigo, o acesso à versão completa é reservado a assinantes) foi apresentado um trabalho de uma equipa sul-americana que pode pôr fim a uma acesa controvérsia sobre a evolução das serpentes, de animais marinhos ou terrestres. O zoólogo Hussam Zaher, cientista do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, em colaboração com o palentólogo Sebastián Apesteguía, do Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia, apresentam os detalhes anatómicos dos fósseis da mais antiga espécie de cobra já encontrada, a Najash rionegrina, uma serpente que viveu no Cretáceo Superior (há 90 milhões de anos) e que apresenta patas traseiras funcionais, completas com femora, fibulae, e tibiae, e pélvis.

«A gente espera que esse trabalho provoque uma certa revoluçãozinha, trazendo uma baforada de ar fresco sobre o debate da origem das serpentes e rejeitando a hipótese da origem marinha» afirmou Zaher.

Os criacionistas do site humorístico «Respostas no Genésis», AiG, que ainda têm atravessada uma espinha do Tikataalik rosae, continuam a debitar prosas hilariantes no seu afã de refutarem as evidências experimentais da evolução. Em relação à Najash rionegrina acho especialmente divertido o parágrafo que reza:

«A AiG é cautelosa acerca da comparação desta serpente fóssil com a serpente de Génesis 3:14 [a tal que provocou a dentadinha no proíbido fruto do conhecimento]. Em primeiro lugar, não sabemos muito acerca da anatomia dessa serpente. Mas podemos oferecer uma sugestão razoável de que seria capaz de andar ou rastejar; depois da serpente ser amaldiçoada foi pronunciado que «no teu ventre rastejarás» sugerindo que antes da queda se movia usando apêndices. De igual forma este fóssil resulta provavelmente do Dilúvio de Noé, um acontecimento que teve lugar 1500 anos depois de a serpente ser amaldicoada a rastejar sobre o ventre».

Ou seja, os criacionistas cristãos advertem os crentes para não confundirem esta serpente que tem «só» 4500 anos com a serpente andante do pecado original porque esta última viveu… há 6000 anos! Santa ignorância! Em relação aos argumentos imbecis, incoerentes e mutuamente contraditórios que usam para afirmarem que a Najash não é uma evidência para a evolução, parecem os argumentos invocados para chamar à banana «o pesadelo dos ateístas» (vale a pena seguir o link e ver em vídeo, ao vivo e a cores, os delírios criacionistas cristãos no seu esplendor, especialmente do tempo 3:30 ao 4:36. Quem tiver paciência pode assistir a 28 minutos de puro disparate, ou antes, pura «lógica» cristã, tipo provar que não existe urânio em Portugal porque por (re)definição o urânio é um metal que não existe em Portugal).

Tanto quanto eu saiba o Discovery Institute, que recentemente se insurgiu por ser correctamente descrito como um «think tank conservador cristão» num artigo de um jornal de estudantes na Universidade de Baylor, ainda não produziu nenhuma falácia IDiota sobre a serpente com pernas.

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