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  • 20 de Novembro, 2013
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

O Papa Francisco e o marketing do Vaticano

Anda por aí, repassada (como se diz em mau português), isto é, divulgada até à náusea a informação de que o atual Papa afronta a Cúria e arrisca a vida. Vive fora dos aposentos pontifícios, beija pés improváveis e ameaça obrigar o I.O.R. a reger-se pelas normas internacionais de transparência, depois de o Vaticano ter sido colocado na lista negra dos centros bancários de lavagem de dinheiro, pelos EUA. As eventuais relações com a máfia e o paraíso fiscal não podem manter-se, sem arriscar a credibilidade do Paraíso.

Este Papa, Francisco, foi uma inevitabilidade, para romper de forma controlada com os escândalos sucessivos, desde o encobrimento da pedofilia à cumplicidade na falência fraudulenta do Banco Ambrosiano, que financiou o sindicato polaco Solidariedade e a luta contra o comunismo.

Não tenho qualquer informação que não seja veiculada pela comunicação social e outra, mais suspeita, que circula pelos esgotos da NET, a céu aberto, encaminhada por pessoas de várias tendências, inclusive ateus e agnósticos, usualmente alheios ao que se passa no Vaticano, informação que chega «repassada» a todas as caixas de email.

Vale a pena refletir sobre o papado e a sua influência enorme sobre países e populações de vários países do Globo. Com exceção de João Paulo II, um pároco de aldeia de parca preparação e imenso ativismo político, servido pela descomunal rede de propaganda ao serviço do Vaticano, os Papas são clérigos de altíssima qualidade intelectual e de grande experiência política.

Francisco é jesuíta, de uma ordem que prima pela preparação intelectual, perseguida por João Paulo II em detrimento do Opus Dei cujos recursos enormes serviram para cobrir o buraco financeiro aberto por João Paulo II, que protegeu o autor do desfalque do Banco Ambrosiano, o arcebispo Paul Marcinkus, a quem negou a extradição para ser julgado.

Convém referir que um padre jesuíta, que raramente aceita lugares hierárquicos, tem as habilitações correspondentes a um doutoramento. Ninguém julgue que Francisco é um clérigo ingénuo saído de um conclave onde há séculos não havia notícia da presença do Espírito Santo, apenas da crescente influência do Opus Dei a que João Paulo II conferiu a qualidade de prelatura pessoal e a rápida canonização ao fundador.

Francisco é o Papa necessário a esta fase em que a Europa, secularizada, começa a olhar para a Igreja católica perante a ameaça do proselitismo islâmico e que precisa de cuidar da América do Sul onde a implantação é grande e a concorrência evangélica agressiva.

Mantendo a indústria do milagres e a idolatria à Virgem, obsessões do Opus Dei, o Papa Francisco é o pontífice capaz de fazer esquecer a conivência do Opus Dei com todas as ditaduras fascistas, a começar pela de Franco, onde foi dominante no Governo e culpado pelos escândalos financeiros da Rumasa e Matesa, e a acabar na de Pinochet.

A aura de um papa acossado pela máfia e pelos gangues da Cúria é uma interessante via de promoção, a puxar ao sentimento e à solidariedade. Isto, sem duvidar dos interesses obscuros e contraditórios que se digladiam no interior da Cúria romana.

Perfil de Autor

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- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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