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  • 4 de Agosto, 2013
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

O Vaticano, o catolicismo e a concorrência

O Vaticano é uma herança do fascismo, nascido nos acordos de Latrão e marcado por uma herança conservadora que, quase sempre, o ligou às ditaduras de direita, de que foi muitas vezes o sustentáculo ou, mesmo, o cúmplice silencioso nas piores atrocidades.

Os escândalos sexuais dos clérigos romanos, várias vezes empolados pela comunicação social e por rivalidades religiosas ou pela animosidade dos livres-pensadores, ajudaram ao descrédito do catolicismo. Também a lavagem de dinheiro no banco do Vaticano (IOR) e a opacidade das contas da Igreja católica nos países onde consegue furtar-se à apresentação de qualquer contabilidade minimamente transparente, contribuem para a imagem negativa, mas é a progressiva secularização da Europa que mais aflige o papa.

A aliança de João Paulo II com Reagan foi decisiva para a implosão do comunismo mas a proteção a Pinochet e a cumplicidade com as ditaduras católicas sul-americanas não o promoveram a arauto da liberdade nem o deixaram capitalizar a herança católica dos criadores da U. E. – Schuman, Adenauer e De Gasperi –, tendo ajudado à recusa da sua obsessão em introduzir uma referência ao cristianismo na Constituição Europeia.

Não são 44 hectares de sotainas que tornam pujante o Vaticano, mas a diplomacia com quase todos os países, as representações acreditadas em organismos internacionais e os movimento ultraconservadores de inspiração autoritária: Comunhão e Libertação, Opus Dei, Legião de Cristo, Focolares, Neocatecumenal, todos protegidos por João Paulo II e Bento XVI. O imenso exército de bispos, padres, freiras, monges e leigos, bem como o imenso património e influência na educação e assistência dos países mais pobres, fazem da Igreja católica uma poderosa multinacional e um instrumento de pressão política.

Claro que há crentes que, por bondade pessoal ou crença no Paraíso, são especialmente úteis a populações carenciadas e países em crise. O Vaticano não é obrigatoriamente um Estado pária onde o poder monárquico absoluto do papa se torne um perigo permanente para os direitos humanos. Pelo contrário.

A Igreja católica perde fiéis para igrejas evangélicas e pentecostalistas ligadas aos EUA, onde só 25% da população se reclama católica, sendo, no entanto, o maior contribuinte financeiro para essa Igreja mas em acentuada regressão.

Atualmente, a escolha de um Papa argentino, parece trocar a deriva reacionária dos dois últimos pontificados e apostar decididamente nos países sul-americanos que os jesuítas conhecem bem desde as descobertas.

Há obstáculos que a Igreja católica, se quiser sobreviver no mundo globalizado, terá de contornar: a resistência cultural dos povos orientais, o progressivo individualismo dos povos, o liberalismo económico e o proselitismo islâmico, sem perder de novo o respeito pelas liberdades individuais e pela laicidade dos Estados.

A alegada existência de Deus é alheia ao futuro da Igreja, da católica e das outras.

 

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

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- Colaborador do Jornal do Fundão;

- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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