AS NOVAS INDULGÊNCIAS DO PAPA FRANCISCO
AS NOVAS INDULGÊNCIAS DO PAPA FRANCISCO
Por
João Pedro Moura
A afirmação do papa Francisco de que concederia “indulgência plena” aos seus seguidores no Twitter, embora a troco de “terem feito a sua confissão a um padre, recebido a absolvição e participado da missa“ é uma incongruência teológica, que deita abaixo a auréola de seriedade e simplicidade que este papa já granjeou, para quem for católico sério e analisar seriamente tal ideia…
Com efeito, o papa Francisco faz o que o papa Leão X fez, “in illo tempore”, que é o de transformar o “perdão dos pecados” num ato de tipo comercial: tu dás-me e/ou fazes o que eu quero; em troca dou-te a remissão dos pecados.
Isto é, mesmo o maior bandido e criminoso, que desse dinheiro à Igreja, no séc. XVI, recebia indulgência plenária, detraindo a necessidade religiosa e concetual do “arrependimento”, questão eminentemente do foro individual e de sinceridade do indivíduo.
Isto é, um qualquer indivíduo, seguidor do papa no Twitter, desde que diga que foi à confissão, que foi absolvido e que foi à missa, recebe “indulgência plena” do papa…
… Mas não a recebe, quem não seguir o papa no Twitter, ou porque não liga a essa rede, ou porque não sabe, mesmo que se sinta um sincero e devoto católico… de confissões e missas… e reconhecimento público e eclesiástico paroquiais…
A Questão das Indulgências, que o frade agostinho, Martinho Lutero, levantou, afixando “95 teses contra as indulgências” na porta da igreja de Wittenberg, na Alemanha, em 31 de outubro de 1517, traçou a linha demarcativa, que levaria ao maior cisma da Igreja, até hoje: a Reforma Protestante.
E a Questão das Indulgências foi o mote dessa crise fundamental.
Com efeito, o papa Leão X, promoveu a venda de indulgências, a partir de 1515, na Alemanha do norte, a troco de dinheiro para a construção da basílica de S. Pedro, em Roma.
Lutero, uma daquelas pessoas muito sinceras na sua devoção e avessas a situações de corrupção ideológica e material, detetou logo a incongruência entre tal venda e a “salvação da alma”.
A tese fundamental de Lutero, nessa matéria, é a de que o indivíduo se salva pelo arrependimento sincero e vontade de se corrigir e não por uma aquisição de perdão, ainda por cima conseguido por dinheiro…
O que o papa Francisco quer estabelecer agora, é uma recorrência da essência da atitude papal de outrora: conseguir não já dinheiro, mas o apoio de seguidores duma rede social, desde que cumpram formalidades de missas e confissões, recebendo tais sequazes, em troca, uma “indulgência plena”, diferenciando-os, numa situação discriminatória e arbitrária, de todos aqueles católicos que, mesmo sem seguirem o papa no Twitter, são devotos do papa e do catolicismo.
Com esta atitude, o papa Francisco, determina categorias de remissão dos pecados e, consequentemente, de crentes, não pela aplicação teológica do conceito de arrependimento e de fé salvífica, mas sim pela mera e formal inscrição numa rede social informática.
A cobrança de indulgências, no séc. XVI,
pela Igreja católica visava arranjar dinheiro para a
construção da basílica de S. Pedro, em Roma,
durante o papado de Leão X (1513-1521)
Eis alguns extratos significativos da argumentação teológica de Lutero contra as indulgências papais:
“1. Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: “Arrependei-vos” etc., certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento.
2. E esta expressão não pode e não deve ser interpretada como referindo-se ao sacramento da penitência, isto é, à confissão e satisfação, a cargo do ofício dos sacerdotes.
5. O papa não quer e não pode dispensar outras penas, além das que impôs ao seu alvitre ou em acordo com os cânones, que são estatutos papais.
6. O papa não pode perdoar dívida senão declarar e confirmar aquilo que já foi perdoado por Deus; ou então faz nos casos que lhe foram reservados. Nestes casos, se desprezados, a dívida deixaria de ser em absoluto anulada ou perdoada.
21. Eis porque erram os apregoadores de indulgências ao afirmarem ser o homem perdoado de todas as penas e salvo mediante a indulgência do papa.
27. Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao
cair na caixa a alma se vai do purgatório.
28. Certo é que no momento em que a moeda soa na caixa vêm o lucro e o amor ao dinheiro, cresce e aumenta; a ajuda porém, ou a intercessão da Igreja tão só correspondem à vontade e ao agrado de Deus.
32. Irão para o diabo juntamente com os seus mestres aqueles que julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.
35. Ensinam de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de arrependimento e pesar.
36. Todo e qualquer cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados, sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.”
Martinho Lutero, “95 Teses contra as Indulgências”
http://www.arqnet.pt/portal/teoria/teses.html
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
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- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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