Em nome da liberdade
A transferência do direito divino para a soberania popular foi um pequeno passo para a democracia e uma grande decepção para o clero.
A liberdade é um bem cada vez mais escasso. Devassada pela insegurança dos Estados, ameaçada pelo medo e tolhida pelo fanatismo religioso, a liberdade precisa de quem a defenda contra tudo e contra todos.
A publicação destas caricaturas de Maomé desencadeou a ira do islão e os desacatos, ameaças e violências dos fanáticos do pastor de camelos. Amanhã seriam os cristão a combater esta alusão ao calvário de Cristo e a liberdade de expressão regressava às mãos dos padres e coronéis que na ditadura exerciam a censura à imprensa.
Temos na memória o trauma das perseguições da inquisição, a celeuma recente de um aconselhável preservativo colocado em sítio menos óbvio – o nariz de João Paulo II -, pelo cartoonista António e o assassinato de um médico por um pastor evangélico, na sequência da prática de um aborto, nos EUA.
Temos o direito de caricaturar Deus, como afirmava intemerato o jornal France Soir «OUI, on a le droit de caricaturer Dieu».
Se nos deixarmos tolher pelo medo, não tarda que o poder seja de novo confiscado pelo clero, que sempre reivindicou procuração divina, e que sejam postos em causa direitos, liberdades e garantias arduamente conquistados ao longo dos séculos.
Dar publicidade aos testemunhos de irreverência, humor e heresia não é provocação aos crentes, é um acto de cidadania em defesa da liberdade de criação, uma ousadia contra a chantagem, uma advertência de quem resiste ao medo, à violência e à chantagem.
Este artigo, publicado em simultâneo no Diário Ateísta e no Ponte Europa, é um acto de solidariedade para com todos os criadores artísticos, órgãos de comunicação social que os acolhem e países que não se vergam à histeria da fé e ao fascismo religioso.
É também uma forma de homenagear Salman Rushdie cuja condenação à morte nunca foi censurada pelo Vaticano.
Não faltam cobardes a dizer que «deve haver um certo cuidado» e que «talvez não tenha sido sensato». A pusilanimidade não conhece limites.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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