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Maria (1)

Naquele tempo, Maria, os teus pais julgavam-se descendentes do rei David e, assim, disfarçavam a pobreza e aliviavam a fome que grassava nos lares humildes da Judeia.

Joaquim e Ana pouco tinham para além da árvore genealógica, se é que eles sabiam, ou inventaram-na os vindouros para fazer do filho teu a fantasia universal.

Quando conheceste José ficaste aflita, acordaram os sentidos, subiu-te o rubor à face e só a timidez e os costumes te impediram de abraçar o carpinteiro jovem de Nazaré, trocar beijos húmidos e seguir como a natureza manda e a hipocrisia condena.

Sabemos pouco de ti. Não sonhaste que viesses a interessar alguém quando escutavas a oração matinal do teu pai a bendizer Deus por tê-lo feito judeu e não escravo…nem mulher. Nem te davas conta da injustiça, conformada com a sorte de seres fêmea.

Quando, pela vez primeira, achaste José a percorrer-te o corpo, sentiste arrepios que o bafo quente ampliava, e pareceram-te veludo as mãos que ora subiam os montes, ora se detinham nos vales da tua anatomia, quando atingiste o êxtase e sentiste que há vida para lá das orações.

Foram tempos exaltantes e, em breve, soubeste o que te ia nas entranhas. A seita que se apropriou de ti inventou um anjo para te anunciar a gravidez como se a mulher não percebesse, como se um anjo fosse o teste de gravidez ou um tubo de ensaio com urina e reagentes.

No fim do tempo que é devido nasceu um varão para alegria tua e de José que as fêmeas valiam pouco. Tão satisfeita ficaste que o chamaste Jehoshua que queria dizer «Javé é a salvação», depois transformado em Jesus.

Algum tempo depois, vá-se lá saber porquê, havias de emigrar para o Egipto, facto que daria origem a uma história fantasiosa para colorir as origens de uma nova seita que ainda hoje floresce.

Quando aos 12 anos Jesus se esgueirava de casa para se livrar do pai e da oficina e se refugiava no templo onde os doutores aproveitavam a ociosidade para conversar com ele, mal podias adivinhar, Maria, que a populaça havia de ver nele o Cristo predito nos escritos que o templo guardava.

Da adolescência, dos desejos reprimidos ou satisfeitos, dos sonhos e pesadelos dessa idade nada se sabe do teu menino. Nem do jovem adulto.

Aos trinta anos baptizou-o nas águas do Jordão um indivíduo habilitado, João Baptista de seu nome, e – diz-se -, Jesus abalou depois para o deserto onde resistiu às tentações do demo, como se o lugar fosse adequado a consumar desejos, e jejuou quarenta dias.

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

- Sócio da Associação 25 de Abril

- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;

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- Colaborador do Jornal do Fundão;

- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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