Duplicidade de critérios
O vigário geral da Diocese de Phoenix , Arizona, Monsenhor Dale Fushek, foi preso ontem sob acusação de abuso sexual de menores.
Já em 2003 a diocese de Phoenix tinha pago 45 000 dólares para evitar que uma acusação de abuso sexual contra Fushek chegasse a tribunal, alegadamente para evitar os custos do processo. Pouco depois deste pagamento Fushek, que foi o fundador do maior movimento católico de adolescentes nos Estados Unidos, Adolescentes para a Vida (Life Teens) foi promovido à sua actual posição de segundo na hierarquia, posição imediatamente abaixo da de bispo. Ou seja, não só a diocese sabia das acusações que pendiam sobre o prelado como este foi recompensado pouco depois de estas virem a público!
Segundo os termos da acusação Fushek «usou uma relação de confiança para praticar actos criminosos, incluindo mas não limitados a actividades sexuais, discussões sexuais e contacto físico impróprios sobre menores vulneráveis e vítimas adultas».
A diocese de Phoenix tem sido inesperadamente colaborante com a acusação neste caso, prática inédita quiçá devida à substituição do Bispo Thomas O’Brien, que resignou após ter sido preso num caso de atropelamento mortal de um peão seguido de fuga do local do atropelamento.
Np entanto nem todos os responsáveis católicos de Phoenix acreditam na culpabilidade de Fushek «Nós acreditamos que as alegações contra o Monsenhor Fushek são completamente inconsistentes com o seu carácter e serviços honoráveis para a Igreja e os adolescentes nestes últimos 26 anos» afirmou o presidente dos Adolescentes para a Vida, Vince Roig, que acrescentou ser Fushek o visionário da organização.
Aparentemente o discurso do presidente da conferência dos bispos católicos americanos, o Bispo William Skylstad, falhou no tempo do verbo: o escândalo da pedofilia no clero americano e as pesadas indemnizações decorrentes são não algo do passado mas uma realidade bem presente. Por muito que o Papa tente fazer passar que tudo não passa de manobras para desacreditar a Igreja de Roma e as dioceses tentem esconder e abafar os casos…
Estes exemplos de relativismo da Igreja em relação a crimes bem reais em que as vítimas, crianças e adolescentes vulneráveis, são invariavelmente ignoradas pela Igreja Católica que apenas se preocupa com a respectiva imagem, são profunda e completamente inconsistentes com a actuação da Igreja em várias instâncias, por exemplo no caso do aborto, em que exige que se mande para a cadeia as mulheres que decidam por interromper uma gravidez, mesmo no caso de aborto terapêutico em que a vida da mulher (ou criança) corre risco.
Nunca conseguirei entender os «valores morais» absolutos e intemporais de uma instituição que protege ou mesmo recompensa quem comete um crime que considero dos mais abjectos e se acha no direito de exigir a criminalização de algo apenas porque contraria um dos seus anacrónicos dogmas!