Treta da semana: especial silly season.
As seitas mais ortodoxas do judaísmo consideram pecado qualquer contacto entre homens e mulheres fora do casamento. Por isso, em Israel, exercem muita pressão para segregar homens e mulheres nas filas das lojas, nos transportes públicos e assim por diante. Como disparate não paga imposto, por “contacto” entendem também olhar para as mulheres. Mas aqui, finalmente, tomaram uma opção mais justa. Agora os homens judeus ortodoxos podem comprar óculos especiais que obscurecem a visão (1), evitando assim o perigo de ver alguma mulher. Correm mais perigo de serem atropelados, é verdade, mas, no cômputo geral, não é uma grande desvantagem.
Além de ser uma bonita metáfora para a forma como as religiões lidam com a realidade, estes óculos são também um bom exemplo para todos os religiosos. Em vez de chatearem os outros com as suas crenças religiosas resolvem o problema na origem: se não querem ver mulheres, tapam os olhos e não as mulheres. Simples, eficaz e, dentro da insanidade que as religiões invariavelmente são, é certamente o mal menor.
Infelizmente, suspeito que, se fosse por eles, em vez de serem os homens a usar os óculos de ver pior, punham era as mulheres em sacos de lona ou coisa assim. É a solução consensual noutros lados em que conseguem fazê-lo. Suspeito que é apenas a crescente tendência dos seus conterrâneos para troçar destes disparates religiosos, e para opor os abusos da fé, que tem obrigado esta mudança de atitude (2). Mas, por sua vez, este pequeno passo, mesmo contra vontade, poderá contribuir para reduzir o fervor religioso. É que, se a religião deixa de servir para mandar nos outros, perde logo quase todo o interesse. Se é assim mais vale ficar só pela fé, e mesmo isso só quem quiser.
1- Daily Mail, Orthodox Jewish men given a new weapon in the war against sexual temptation… blurred glasses so they can’t see women
2- Frum Satire, Charedi technology to fight the war on pritzus
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