Bactérias sociais
No final dos anos 80 alguns dados experimentais intrigavam os cientistas da Universidade de Tel Aviv Eshel Ben-Jacob e James Shapiro da Universidade de Chicago. As bactérias, dos organismos vivos mais «simples, demonstravam comportamentos que implicavam a existência de uma estrutura social e inclusive apresentavam comportamentos altruísticos de «indíviduo» em prol da comunidade bacteriana.
Mais interessantes são ainda os comportamentos bacterianos inesperados que Ben-Jacob trabalhando com bacillus subtilis (e também Paenibacillus dendritiformis e Paenibacillus vortex) e Shapiro com E. coli e salmonella encontraram. Comportamentos que os levaram a sugerir que o genoma colectivo dos indivíduos de uma colónia funciona como um computador ou, como afirma Ben-Jacob, «o genoma faz cálculos e altera-se de acordo com os resultados desses cálculos». Assim sendo o genoma bacteriano contraria o teorema de Gödel que implica que um computador não pode desenhar outro computador com um poder computacional mais sofisticado que o original. Isto é, em casos de alterações drásticas do ambiente em que a mutação aleatória de genomas individuais não assegure sobrevivência da colónia esta funciona como um grupo. Grupo cujo CPU bacteriano dá conta do recado, resolvendo catástrofes ambientais insuperáveis à capacidade «computacional» de uma única bactéria.
Num artigo escrito especialmente para o «Mundo da Ciência» podemos ver uma súmula e uma discussão do trabalho dos referidos cientistas e de outros que trabalharam sobre este tema. Que concordam que em determinados casos as bactérias sacrificam a sua individualidade ao grupo social e toda uma colónia se comporta como um macro organismo.
Estes grupos sociais são redes neuronais que funcionam como um massivo supercomputador com processamento paralelo mas um computador «inteligente», que pode aprender. Redes neuronais que requerem que haja troca de informação entre indíviduos, nomeadamente informação sobre o meio ambiente, e a resposta a estímulos exteriores é uma decisão que envolve todo o grupo. Vou tentar voltar a este tema difícil mas fascinante noutra ocasião, mas o que podemos inferir do trabalho destes (e outros) cientistas é que um microscópico bacilo apresenta comportamentos sociais inesperados incluindo acções morais, tais como o altruísmo, que algumas religiões consideram impossíveis sem a crença num qualquer Deus.
Estranhamente, tanto quanto eu saiba não se detectou actividade religiosa em qualquer destas colónias bacterianas e não se conhece qualquer Deus que tenha feito a E. Coli ou a salmonella à sua imagem.