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Mais alguns dados sobre os lefebvristas

Escrevi já dois artigos sobre o encontro entre o Papa B16 e o líder da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX, lefebvristas). No entanto, não mencionei ainda vários factos interessantes sobre esta organização.

Comecemos pelo início. Em 1988, Marcel Lefebvre desafiou a ICAR de JP2 ao nomear quatro bispos: Richard Williamson, Tissier de Mallerais, Alfonso de Galarreta e Bernard Fellay. Desses quatro, Bernard Fellay é o líder actual da FSSPX e foi recebido por Joseph Ratzinger no dia 30 de Agosto, e Richard Williamson é autor de textos absolutamente deliciosos. Entre eles, encontra-se um que defende que «As calças femininas são um ataque à feminilidade das mulheres» (um excerto: «as calças numa mulher são piores do que a mini-saia, porque enquanto a mini-saia é sensual e ataca os sentidos, as calças são ideológicas e atacam a mente»; portanto, as senhoras católicas devem evitar usar calças e a «ideologia» anexa!). No entanto, Williamson não é apenas cómico, é também um anti-semita sinistro, que considera o Holocausto uma «invenção dos judeus» e que nega que as câmaras de gás tenham existido (ler uma selecção dos textos anti-semitas do bispo Williamson). Mais, Williamson acredita na existência de um complô judaico-maçónico para destruir a ICAR, no qual os comunistas e os ateus estarão também envolvidos, embora ele não seja muito específico quanto à forma da coligação entre estes grupos…

Poderá julgar-se que este fascista engajado, que considera os EUA um «país comunista» (sic), será um caso isolado na FSSPX. No entanto, as suas convicções são partilhadas por pelo menos mais um bispo lefebvrista, Tissier de Mallerais, que já escreveu que os judeus são «odiosos» e que «trabalham activamente para a vinda do anticristo». Não é portanto surpreendente que em vários países os padres da FSSPX surjam associados a membros de partidos neonazis, a negacionistas do Holocausto e a racistas, ou que sejam cada uma destas coisas mais ou menos abertamente.

As publicações da FSSPX são um manancial para quem quiser encontrar um tipo de pensamento tão ultra-católico que faz César das Neves parecer um ateu laicista e tolerante. Evidentemente, há criacionismo do mais extremo, explicações de como a pena de morte é um ensinamento tradicional da ICAR, mas também… um artigo intitulado «Defesa da Inquisição», onde se explica que «a Inquisição era um tribunal honesto, que tentava converter os hereges em vez de os punir, e que condenou relativamente poucas pessoas às chamas, e que só usou a tortura em casos excepcionais», e que a liberdade religiosa, o princípio à luz do qual se condena a Inquisição, está «em ruptura com a tradição da [ICAR]», que é de «dever de intolerância para com as falsas religiões» (eu concordo com esta última parte…). O artigo referido defende abertamente que a Inquisição «salvou a Espanha» e que se deve «reabilitar» esta instituição, e termina afirmando que «os católicos não têm nada de que se envergonhar nos trabalhos passados deste santo tribunal».

Enfim, é na direcção desta gente muitíssimo católica mas pouco recomendável que o Vaticano, segundo a expressão da BBC, se está a «movimentar».

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