Feminilidade segundo os Evangelhos
Randy Stinson, o teólogo cristão que dirige o Conselho da feminilidade e masculinidade bíblicas, afirma que o Novo Testamento tem instruções explícitas acerca do papel da mulher na Igreja e, como tal, as acções recentes de duas confissões protestantes denotam uma pecaminosa falta de confiança na autoridade das Escrituras.
Para o devoto e misógino cristão é uma abominação que a Igreja Cristã (discípulos de Cristo) tenha eleito uma mulher, Sharon E. Watkins, para a dirigir. Assim como constitui um desvio intolerável à santa misoginia cristã que a Igreja de Inglaterra, que já ordena mulheres, tenha iniciado um «processo para remover obstáculos à ordenação de mulheres bispos». De facto 14 das 38 Igrejas Anglicanas a nível mundial já decidiram permitir a ordenação de bispos no feminino. Aliás, são mulheres metade dos aspirantes a clérigos da Igreja Anglicana.
Para o director da organização que pretende manter a «pureza» da misoginia cristã, estas blasfémias pecaminosas são claramente contra os preceitos bíblicos:
«O Novo Testamento é certamente claro que Paulo diz a Timóteo ‘Eu não permito que uma mulher ensine ou tenha autoridade sobre um homem’ e está a falar especificamente no contexto da Igreja e como a Igreja deve ser governada. Assim nós acreditamos que, de acordo com a Bíblia, alguns papeis de liderança e ensino são restritos aos homens».
Claro que as declarações do misógino teólogo estão em absoluto acordo com a discriminação contra as mulheres que a sua organização promove. Organização cujo objectivo é combater a degradação associada ao feminismo, na mesma linha de Ratzinger e da Igreja Católica com a sua «Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a Colaboração do Homem e da Mulher na Igreja e no Mundo», que deplora o feminismo. E concordam que o papel de dominância do homem sobre a mulher foi ordenado por Deus, mesmo antes da «queda», e que a dentadinha na maçã da mítica Eva apenas exponenciou o domínio da mulher pelo homem. Tentar alterar a «ordem divina» é pecaminoso…
Não admira pois que as confissões cristãs combatam tão afindamente o evolucionismo. Não só é impossível que os machos de qualquer espécie precedam as fêmeas (aliás, sabemos hoje que os embriões são, por defeito, femininos e só se dá a diferenciação num ponto avançado do desenvolvimento embriónico) e se Eva é, à luz do conhecimento científico, uma figura mítica e se reconhece que não houve qualquer «pecado» original, como manter a misoginia da Igreja? Ou pior, se não houve pecado original qual a necessidade da «incarnação» do mítico fundador do cristinanismo? Para expiar algo que a ciência nos confirma ser uma lenda? Ou uma dentadinha de uma amiba no (microscópico) fruto da «árvore do conhecimento»?