Milagres…
A cada passo somos confrontados com fenómenos inexplicáveis – ou convenientemente deturpados de modo a dificultar a explicação. Ou é o olho da D. Guilhermina que se cura milagrosamente graças à intercepção de D. Nuno Álvares, ou é uma freira que, milagrosamente, vê a sua doença de Parkinson desaparecer, ou é uma mulher que vê regredir um cancro na garganta.
Quando a ciência não pode – ou não sabe, que a ciência não sabe tudo e ainda bem, acrescento eu – explicar os fenómenos, aparecem os aproveitadores do costume a berrar que nem ovelhas desmamadas, “milagre, milagre!”.
Era assim nos primórdios da Humanidade, quando o Homem foi confrontado com fenómenos na altura inexplicáveis; foi assim que nasceram os deuses, posteriormente reunidos num só, suponho que por razões económicas.
Em resumo: quando ocorre um fenómeno inexplicado, é milagre. E o presumível autor do “milagre” começa a percorrer o rápido caminho para a santidade
Ponto final.
A televisão tem-nos dado conta de uma senhora que deu à luz uma criança que nasceu sem uma das mãos. Hoje mesmo, perante as câmaras, a senhora afirmava ter tido uma gravidez e um parto normais, e que a ciência não encontrava explicação para o fenómeno.
Estão, pois, creio eu, reunidas as condições para que o fenómeno seja considerado milagre, e para a senhora ser beatificada. Ou santificada, sabe-se lá… Com a vantagem da originalidade: o milagre deu-se com a autora ainda viva, não deixando margem para dúvidas ou especulações, enquanto os outros têm ocorrido com os presumíveis autores já defuntos, não podendo haver certezas quanto à autoria. Só suposições.
A Congregação Para a Causa dos Santos está à espera de quê? De que a senhora morra?