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Ditadura segundo o evangelho

Segundo o Cardeal Rosalio Castillo Lara a Venezuela está a viver em ditadura, sob o jugo do «mais nefasto governo na história da Venezuela» e acha que a situação se pode resumir à oração «pede a Deus que nos liberte deste flagelo».

A igreja católica venezuelana, que perdeu boa parte da sua credibilidade junto ao governo a partir de 11 de abril de 2002, quando a sua hierarquia participou activamente no golpe de Estado que derrubou, por algumas horas, o presidente Chávez, fala num processo revolucionário em curso naquele país, nomeadamente no fim anunciado das liberdades democráticas, e da promoção da tão combatida«cubanização» da Venezuela.

As declarações do piedoso prelado inserem-se no espírito do último livro do finado João Paulo II, «Memória e Identidade», em que este afirmava que não aceitar os ditames dos Evangelhos é uma nova forma de totalitarismo. Assim, qualquer regime político não sujeito às leis de Roma seria ditatorial. Não importa que Hugo Chávez tenha sido recentemente ratificado nas urnas, para desespero da mui democrática e católica oposição que promoveu a tentativa de golpe de estado, procurando nas ruas aquilo que não conseguiu nas urnas. Para a Igreja católica a definição de democracia é tão só o acatamento dos seus ditames anacrónicos.

Aliás, a História da América latina está recheada de ditaduras democracias católicas apoiadas entusiasticamente pela Igreja Católica. Nomeadamente a ditadura democracia militar na Argentina apoiada ostensivamente pela delegação da ICAR local, «salvando» assim a Argentina do comunismo internacional.

Suponho que dentro em breve ouviremos protestos semelhantes da «elite» católica em relação ao governo da Argentina, também pela inusitada e «ditatorial» reacção do governo de pedir a substituição do bispo das Forças Armadas, António Baseotto, dizendo que deixaria de lhe pagar o salário respectivo se tal não acontecesse. Acção classificada pelo porta-voz do Episcopado, Jorge Oesterheld, como «um passo para a discriminação e um atropelo à liberdade religiosa».

Tudo porque o indignado prelado proferiu umas «justas» palavras sobre o ministro da Saúde, muito pouco catolicamente a favor do uso de métodos contraceptivos não «naturais», o famigerado e pecaminoso preservativo entre eles, e da despenalização do aborto. Assim foi certamente exagerada e ditatorial a supracitada reacção às declarações do bispo que o ministro merecia «ser atirado ao mar com uma pedra de moinho ao pescoço», uma prática corrente na ditadura militar, em que se atiravam os presos políticos ao mar, a partir dos aviões navais. Aliás, de acordo com as declarações ao canal Plus de França do general Benito Bignone, ditador da Argentina entre 1982 e 1983, uma prática aprovada pelos bispos da Igreja Católica argentina, que concordavam com a política da última ditadura militar de torturar e silenciar os «desaparecidos» opositores políticos. Certamente possuídos pelo demo para atentar contra tão católico regime. E contra o demo todas as acções são legítimas!

Como o comprovam os relatos de diversos sobreviventes dos campos de concentração da ditadura democracia católica, que indicam a presença de padres da Igreja Católica nas salas de tortura, que participavam activamente nas torturas e interrogatórios, certamente para despistar e exorcizar possessões demoníacas nos prisioneiros.

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