Imago Dei
Foram recentemente conseguidos resultados muitos promissores para o tratamento da artrite, um flagelo que assola a população portuguesa, já que as doenças osteoarticulares «constituem uma parte importante das patologias crónicas que afectam a população com mais de 65 anos de idade, embora se iniciem frequentemente em idades jovens», como se pode ler no Plano Nacional de Saúde: Orientações estratégicas para 2004-2010.
Mas, possíveis curas envolvem técnicas «pecaminosas» como terapia genética, ou envolveram manipulação genética e clonagem para produção de ratos knockout (isto é, com uma mutação que impede a transcrição de um determinado gene) no gene que codifica a proteína que foi considerada responsável pela desagregação do aggrecan, o componente maioritário da cartilagem (excluindo água, claro) a aggrecanase-2.
Na realidade, manipulações «pecaminosas» são a esperança para a cura de mais doenças até agora sem tratamento efectivo. Outro exemplo é a doença de Alzheimer. Entre 2001 e 2002 a equipa liderada pelo professor Mark H. Tuszynski, na UCSD (Universidade da Califórnia em San Diego) implantou fibroblastos da pele geneticamente modificados para produzir NGF (factor de crescimento de tecido nervoso) no cérebro de oito pacientes com esta doença.
Os resultados deste tratamento por terapia genética foram agora conhecidos e são igualmente extremamente promissores: seis dos pacientes apresentam sinais evidentes do sucesso da técnica e o grupo do professor Tuszynski prepara-se para iniciar a Fase II do estudo.
Resta saber se o novo Papa, que já declarou que uma das prioridades do seu papado será exactamente a bioética, em que se inclui manipulação genética, investigação em células estaminais, etc., e que prepara um novo documento sobre o assunto, vai apelar à desobediência civil, como parece ser a sua táctica de imposição dos anacrónicos dogmas e referencial da Igreja de Roma, para travar quer a investigação quer terapias baseadas no que considera imiscuição indevida do homem nas competências divinas.
Lendo a profusão de documentos, entrevistas e declarações debitadas sobre o assunto, é fácil concluir que o Cardeal Ratzinger considera pecaminosa qualquer interferência no desígnio divino por manipulação genética.
Para o cardeal Ratzinger, e podemos apenas supor que para Bento XVI igualmente, o homem foi criado à imagem de Deus, e embora «A ideia do homem como co-criador com Deus poderia ser utilizada para justificar a manipulação da evolução humana através de manipulação genética.» não podemos esquecer que «isto implicaria que o homem tem direito pleno sobre a sua natureza biológica.» Ou seja, «O nosso estatuto ontológico como criaturas feitas à imagem de Deus impõe limites à nossa auto determinação (biológica). A soberania (sobre o nosso corpo) de que dispomos não é ilimitada» já que «Um homem só pode melhorar realmente realizando mais completamente a imagem de Deus em si unindo-se em Cristo em sua imitação.»
E convém informar que este novo Papa considera que se uma célula adulta é alterada para se tornar totipotente (ou estaminal) então deve ser considerada um embrião. Ou seja, é expectável que brevemente pretenda proibir, na boa tradição inquisitorial a que já nos habituou, a investigação em células estaminais, embrionárias ou adultas, e todas as terapias envolvendo estas células, que serão certamente consideradas um pecado mortal.