A ICAR, a ministra e o preservativo
Por
José Moreira
Ontem foi notícia, embora algo discreta, o facto de a ministra da saúde pretender que a igreja esclareça a sua posição acerca do uso do preservativo. Confesso que não sei muito bem de que planeta a ministra veio, ou em que século julga que está.Vamos por partes.
Desde já, reconheço à mui católica cidadã Ana Jorge o sacrossanto direito de se preocupar com a posição da Igreja perante tão magno problema. Toda a gente sabe, principalmente os praticantes, de que modo uma dúvida pode prejudicar o desempenho sexual; e não me repugna admitir o negativo desempenho da referida cidadã, perante o dilema “condom or not condom, that is the question”. Na hora da verdade, pode ser irremediavelmente frustrante. Mas já me preocupa a preocupação da ministra de um país teoricamente laico. Preocupa-me mas não me espanta, depois de saber que a referida ministra quer transformar os padres em “testemunhas de Jeová”, a espalhar a Palavra de porta em porta.
A Igreja tem determinada posição acerca do uso do preservativo. Muito bem. É um direito que lhe assiste, como a qualquer cidadão ou entidade. E a pergunta é: e o que tem o Ministério da Saúde (MS) e ver com isso? Ao MS compete, apenas, e dentro das suas atribuições, aconselhar o uso do preservativo, para evitar a propagação das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Ao cidadão compete decidir se o usa ou não, independentemente das suas convicções religiosas. Tudo depende do bom senso, e não da religião. No entanto, parece-me legítimo que o cidadão católico decida seguir as indicações da Igreja. Por isso, só o cidadão católico interessado em seguir tais indicações deve pedir esclarecimentos. A ministra está a exorbitar e, nitidamente, a pôr-se em bicos de pés – provavelmente com vista a uma futura canonização.
O cidadão católico, pode, eventualmente, sentir-se obrigado a seguir as indicações da Igreja; mas isso continua a ser uma decisão pessoal. Porque na verdade, ninguém é, realmente, obrigado a usar preservativo. Do mesmo modo que ninguém é obrigado a casar com alguém do mesmo sexo. Se, para o casamento homossexual, ninguém pediu esclarecimentos à Igreja, por que se há-se pedir para o preservativo?
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
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- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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