Pê Nê Rê
Há uns tempos, através do André Esteves, tomei conhecimento da página do Partido Nacional Renovador. Não se pode saber muito sobre a sua história porque, quando carregamos no link, aparece um grande quadrado branco, vazio… quiçá sintomático da própria ideologia do partido.
Logo na primeira página, pode ser descarregada a petição Mais Vida, Mais Família cujo objectivo é travar a descriminalização do aborto e, através de um número de telefone ou de um endereço de correio electrónico é possível pedir uma brochura intitulada “Aborto: 50 perguntas e respostas em defesa da vida inocente”. Não surpreende. Como partido afecto às concepções trogloditas tomadas por sectores cripto-reaccionários da Igreja Católica é natural que defenda a criminalização de todos os comportamentos que chocam com uma qualquer moral vestida de sotainas bafientas, esquecendo princípios fundamentais do Estado de Direito Democrático de matriz europeia – o respeito pela dignidade humana, em geral, a defesa da dignidade da mulher, em particular, e o facto indiscutível de o direito penal, como direito de ultima ratio, não poder conter valorações de ordem moral e religiosa.
Quanto à ameaça da imigração – o sítio apresenta inúmeras notícias referentes a comportamentos ilícitos perpetrados por estrangeiros numa demagogia típica -, os adeptos do PNR esquecem-se que vivemos num mundo cada vez mais globalizado onde é impossível seguir uma política autista de orgulhosamente sós. Como país integrado na União Europeia – algo que eles gostariam de mudar – Portugal está necessariamente sujeito aos movimentos tanto de entrada como de saída (estes são, oportunamente, esquecidos) de trabalhadores.
Para além disso, a abertura a indivíduos vindos do estrangeiro (esse grande país) é essencial para a nossa economia: com um número de trabalhadores activos cada vez menor em virtude das baixas taxas de natalidade e, portanto, com um aumento do número de pensões, na próxima geração não haverá forma de sustentar a classe activa de hoje. Por isso, precisamos de imigrantes para compensar esta falta.
Outra coisa que estes senhores se esquecem é que, historicamente, a Europa e Portugal cresceram à custa da imigração: os celtas e os iberos foram imigrantes. Os romanos também encorajaram as movimentações espaciais. Mais tarde, as invasões bárbaras caracterizaram-se pela deslocação dos povos do norte para o sul do continente. Os árabes também deram o seu contributo para a diversidade cultural que encontramos por todo o lado. Actualmente, os imigrantes do leste e das antigas colónias europeias são apenas mais uma vaga que irá contribuir para esta manta de retalhos que é o nosso país e a Europa.
Algo preocupante que se nota, não apenas em relação a este partido minoritário, é uma onda de saudosismo que tem vindo a afectar determinados sectores da direita portuguesa. Só espero que tudo seja passageiro.